Vietnamito

Individual 6.62g

  • País: Vietnã
  • Classificação: Tectito Vietnamito
  • Massa total: 0,001 kg
  • Queda observada: Não
Vietnamito

O Vietnamito é um dos tectitos mais fascinantes do mundo, não apenas por sua beleza vítrea e variedade de formas, mas também por sua origem ligada a um dos maiores eventos de impacto já registrados na Terra. Ele pertence ao vasto e amplamente estudado Campo Australasiático de Tectitos, que se estende por mais de 10 milhões de km², cobrindo partes da Indochina, Sudeste Asiático, Indonésia, Austrália e até o Oceano Índico. Dentro desse campo gigantesco, o Vietnamito representa a porção norte e central, tendo sido encontrado principalmente nas regiões montanhosas do norte do Vietnã, Laos e Camboja.

Formado há aproximadamente 790.000 anos, o Vietnamito tem sua origem atribuída a um impacto meteórico de proporções colossais, cuja cratera original ainda é objeto de debate científico. A hipótese mais aceita atualmente aponta para uma estrutura oculta sob florestas do sul do Laos ou da região do mar da China Meridional. Independentemente da cratera exata, sabe-se que a energia envolvida nesse evento ultrapassou 100 mil megatons, ejetando milhões de toneladas de material fundido que foram lançadas até milhares de quilômetros de distância. O Vietnamito, portanto, é o resultado vítreo e tangível desse fenômeno planetário.

Visualmente, o Vietnamito é um dos tectitos mais impressionantes. Ele apresenta coloração negra profunda a verde-oliva escuro, com forte brilho vítreo e morfologias que variam de formas aerodinâmicas perfeitas — como gotas, discos, halteres — a fragmentos angulosos e irregulares, originados pela quebra natural após o impacto. As superfícies são frequentemente marcadas por texturas picotadas (pitted), sulcos de fluxo e bolhas internas, resultantes da rápida fusão e resfriamento. Alguns exemplares mostram inclusive marcas de reentrada atmosférica, visíveis como pequenas cristas fundidas, que indicam trajetórias hipersônicas através da atmosfera.

Quimicamente, o Vietnamito é um tectito altamente silicoso, com teores de sílica (SiO₂) geralmente entre 72% e 79%, e conteúdo de alumínio, potássio e óxidos férricos. Seu teor de água extremamente baixo — muitas vezes abaixo de 100 ppm — é um indicador inequívoco de sua formação em condições de altíssima temperatura e pressão. Sua estrutura amorfa, sem cristais, é característica de resfriamento ultrarrápido. Estudos de espectroscopia, microssonda eletrônica e difração confirmam que o material parental foi provavelmente derivado de solos ricos em quartzo e argilas da região do impacto, fundidos em frações de segundo pela energia do evento.

A descoberta dos Vietnamitos remonta a tempos antigos. Povos locais já os utilizavam há milhares de anos como amuletos, pontas de armas ou objetos de troca. Na cultura popular vietnamita, eles são conhecidos como “pedras do trovão” ou “pedras do céu”, sendo considerados símbolos de boa sorte e proteção espiritual. Sua presença em sítios arqueológicos neolíticos comprova que eram valorizados antes mesmo do surgimento da escrita na região.

A redescoberta científica desses vidros se deu no final do século XIX e início do século XX, quando geólogos europeus começaram a documentar sistematicamente a ocorrência desses materiais exóticos no Vietnã colonial. Desde então, os Vietnamitos se tornaram objeto de centenas de estudos acadêmicos, sendo utilizados em modelos de dispersão balística, cronologia de impactos, e até em correlações estratigráficas regionais. Seu campo de dispersão é tão amplo que fragmentos foram encontrados até mesmo na Antártica, transportados por movimentos tectônicos e sedimentares ao longo de milhares de anos.

A raridade do Vietnamito não está apenas em sua beleza ou idade, mas também em sua autenticidade e preservação. Devido à alta demanda por este material, muitas falsificações surgiram no mercado — geralmente vidros fundidos de forma artesanal. Os exemplares legítimos possuem características únicas, como microtexturas específicas e distribuição de bolhas, que só podem ser produzidas em um ambiente de impacto natural. Os tectitos disponíveis aqui são 100% autênticos, provenientes de coleções antigas obtidas durante expedições geológicas nos anos 1980 e 1990, com procedência rastreável.

O Vietnamito é ideal para:

  • Colecionadores avançados, que buscam peças com alta importância científica e geológica;

  • Museus e instituições de pesquisa, que pretendem enriquecer coleções relacionadas a impactos planetários;

  • Estudantes e professores, como ferramenta didática para explicar processos geológicos de alta energia;

  • Joalheiros e artistas, que valorizam a estética e a origem cósmica do material.

O Vietnamito não é apenas um pedaço de vidro — é um vestígio material de uma colisão que reverberou por todo o planeta, um elo direto entre o espaço profundo e a crosta terrestre, moldado em uma fração de segundo e preservado por quase 800 mil anos.

Vietnamito – O tectito do Sudeste Asiático que traz nas suas formas a beleza do caos, o rigor da ciência e a memória de um impacto que sacudiu o planeta.

Tectito

Tectitos são vidros naturais formados por processos de altíssima energia, resultado direto do impacto de grandes meteoroides contra a superfície da Terra. Quando um corpo extraterrestre colide com o solo em alta velocidade – frequentemente superior a 11 km/s –, a energia liberada é suficiente para fundir instantaneamente as rochas da crosta terrestre no ponto de impacto. Essa rocha derretida é então ejetada a grandes altitudes e velocidades, podendo viajar por centenas a até milhares de quilômetros. Durante esse voo balístico, o material se resfria muito rapidamente, solidificando-se ainda em movimento, formando assim os tectitos. Ao contrário dos meteoritos, que são compostos por material extraterrestre, os tectitos são 100% formados a partir de material terrestre fundido — uma distinção importante, mas frequentemente mal compreendida até por estudiosos iniciantes.

Quimicamente, os tectitos são compostos majoritariamente por sílica (SiO2), com teores geralmente entre 65% e 80%, o que os coloca na categoria de vidros naturais semelhantes à obsidiana, porém com características únicas. Possuem baixíssimo teor de água (geralmente menos de 100 ppm), o que indica que foram expostos a temperaturas altíssimas e tiveram pouco tempo de interação com a atmosfera durante sua formação. Além disso, podem conter traços de óxidos metálicos como Fe2O3, Al2O3, MgO e TiO2, com proporções variando conforme a composição original da rocha-alvo.

Os tectitos apresentam uma variedade fascinante de formas, determinadas por fatores como viscosidade da massa fundida, velocidade e ângulo de ejeção, tempo de voo e resistência do ar. Os principais formatos são:

  • Botrioide (ou gota arredondada): formato esférico ou semi-esférico, semelhante a gotas de vidro derretido. Formado pela solidificação de massas fundidas durante o voo, sem deformações significativas. Comum em indochinitos.

  • Disco: tectito achatado, em forma de lente ou disco plano. Origina-se da compressão em voo ou ao atingir o solo ainda parcialmente fundido. Pode apresentar bordas finas e centros espessos.

  • Ovóide: formato alongado, com extremidades suavemente afiladas, lembrando um ovo ou projétil. Formado por modelagem aerodinâmica durante o voo, indicando trajetória e estabilidade balística.

  • Bastonete (ou bastão): forma cilíndrica ou levemente curvada, com comprimento maior que a largura. Resulta do alongamento de material viscoso durante a ejeção e resfriamento em voo.

  • Lágrima (tear-shaped): corpo largo com ponta afinada, típico de resfriamento assimétrico em voo. Um dos formatos mais clássicos, indicando fusão total e alongamento aerodinâmico.

  • Irregular ou fragmentado: formas sem simetria definida, com fraturas ou bordas angulosas. Podem ser resultado de quebra mecânica pós-impacto ou de resfriamento caótico, e são comuns em depósitos secundários.

  • Ranhurado (U-grooved): apresenta sulcos ou ranhuras profundas em forma de "U" na superfície. Característico dos rizalitos filipinos, formados por resfriamento turbulento e estresse superficial durante o voo.

  • Splashform: categoria genérica para formas aerodinâmicas criadas pela ejeção e solidificação do material fundido. Inclui diversos formatos (lágrima, disco, bastonete), moldados pela interação com a atmosfera.

Essas formas não são apenas curiosidades visuais: elas revelam detalhes da dinâmica do impacto e da física dos materiais em condições extremas. O estudo morfológico dos tectitos tem sido fundamental para compreender a natureza dos impactos e as propriedades dos materiais geológicos sob condições extremas de temperatura e pressão.

Os tectitos estão agrupados em quatro grandes campos de dispersão conhecidos, cada um relacionado (ou potencialmente relacionado) a um evento de impacto catastrófico:

1) Campo Europeu – Associado à cratera Nördlinger Ries, na Alemanha, formada há cerca de 15 milhões de anos. Os tectitos dessa região, conhecidos como moldavitos, são encontrados sobretudo na República Checa. São translúcidos, de cor verde esmeralda, com aparência vítrea e superfícies ricamente esculpidas por corrosão natural. Pela sua estética e transparência excepcionais, os moldavitos são os tectitos mais valorizados no mercado internacional e amplamente usados em joalheria. Seu conteúdo químico é um dos mais homogêneos entre os tectitos, o que os torna também objeto de estudos geoquímicos.

2) Campo Australasiático – O maior campo de espalhamento do planeta, com uma extensão que abrange mais de 10 mil km, desde a China e Sudeste Asiático até a Austrália. A cratera de origem ainda não foi confirmada, mas há forte suspeita de que seja a cratera subglacial de Wilkes Land, na Antártida Oriental. Os principais tipos incluem:
 • Australitos (Austrália) – De coloração preta intensa, muitos apresentam formatos aerodinâmicos perfeitos, indicando fusão e resfriamento em voo. São altamente valorizados por sua estética e simetria.
 • Indochinitos (Sudeste Asiático) – Abundantes e densos, coletados principalmente no Vietnã, Laos e Camboja. Seu aspecto é geralmente irregular e escuro, sendo populares entre colecionadores e pesquisadores. 
 • Filipinitos (Filipinas) – Peculiares por suas ranhuras em "U", formadas por instabilidades no resfriamento da massa vítrea. São exemplos notáveis de tectitos com efeitos de turbulência aerodinâmica durante o voo. Como a primeira localidade onde foram achados era a regial de Rizal, esse grupo foi inicialmente chamado de Rizalito. Posteriormente, com achados por toda as Filipinas, o nome do grupo passou a ser Filipinito. Formalmente os tectitos das filipinas são conhecidos apenas como Filipinitos (ou antigamente Rizalitos), porém, alguns nomes são utilizados informalmente por colecionadores para efeito de identifcação das localizações onde são encontrados:   
                  • Bicolito (Bicol)
                  • Rizalito (Rizal)
                  • Andaito (Panggasinan Anda)
                  • Tawi-Tawilito (Tawi-Tawi)
                  • Negroslite (Negros)
                  • Zamboanguite (Zamboanga)
                  • Agusanite (Agusan)
                  • Masbatelito (Masbate)
                  • Palawanite (Palawan)

                 

 • Chinitos (China) – Mais fragmentados e opacos, frequentemente utilizados em estudos acadêmicos devido à sua distribuição ampla e características estruturais. A seguir as principais ocorrências para os chinitos:
                  • Província de Guangdong: Área mais rica da China em Tectitos com formas botões, halteres e gotas. Locais: Regiões próximas a Zhanjiang, Maoming e Yangjiang.
                  Província de Guangxi: Associada à região de Guangdong, próxima a fronteira com o Vietnã. Morfologia semelhante aos indochinitos. Frequentemente ocorre em camadas aluviais ou solo laterítico.
                  • Ilha de Hainan: Famosa por tectitos grandes e variados. Formas iregulares ou aerodinamicamente modificadas. 
                  • Província de Yunnan: Menos comum, mas presente na região do vale do rio Vermelho (Red River). Tectitos semelhantes aos encontrados na Tailândia.
                  • Província de Fujian: Ocorrências mais raras, mas com registros confirmados.      
 • Malasianitos (Malásia) – Menos conhecidos e raros, esses tectitos escuros têm aparência vítrea e formas irregulares. Há debate sobre sua real origem, mas acredita-se que sejam uma extensão periférica do campo australasiático, e não do campo norte-americano como já proposto erroneamente.

3) Campo Norte-Americano – Associado à cratera da Baía de Chesapeake, nos Estados Unidos, formada há cerca de 34 milhões de anos. Este campo se estende pelos estados do sul e sudeste americano. Os principais tipos são:
 • Bediasitos (Texas) – Tectitos pretos e compactos, com textura interna homogênea. São encontrados com frequência em depósitos superficiais e aluviais.
 • Georgiaitos (Geórgia) – Considerados os tectitos mais raros das Américas, são translúcidos, com coloração verde-oliva clara, e altamente procurados por colecionadores devido à sua escassez e beleza incomum.

4) Campo da Costa do Marfim – Originado do impacto que formou a cratera do Lago Bosumtwi, há cerca de 1 milhão de anos, no Gana. Apesar da cratera estar em solo ganês, os tectitos foram ejetados até a região costeira da Costa do Marfim.
 • Ivoritos – Tectitos pretos, com superfícies ásperas e formas geralmente irregulares. São extremamente raros no comércio, e boa parte dos exemplares conhecidos estão em instituições científicas. Seu estudo ajuda a compreender os efeitos de impactos mais recentes na África.

5)  Campo Sul-Americano – Um campo relativamente novo e ainda em fase de estudo, sem crateras conhecidas até o momento:
 • Geraisitos (Brasil) – Descobertos recentemente no norte de Minas Gerais, os geraisitos são tectitos pretos, densos e com textura interna homogênea. Quando iluminados por luz intensa, alguns revelam uma coloração verde escura translúcida. São os primeiros tectitos confirmados em território brasileiro, e sua descoberta representa um marco para a geologia planetária sul-americana
   • Uruguaito – Recém descoberto ainda em estudo.

6) Campo Centro-Americano
  • Belizeito  – tectitos encontrados na região de Belize e Nicarágua (não in situ). Conhecidos também como zapotectitos, são escuros, vítreos e com morfologias irregulares. 

O quadro abaixo representa todos os espalhamentos de tectitos reconhecidos pela ciência, organizados de forma clara e objetiva. Como são apenas quatro grandes campos principais — Australásia, Central Europeu, Costa Leste da América do Norte e Costa Oeste da África — além de algumas ocorrências isoladas ou não confirmadas, é plenamente viável montar uma coleção completa, abrangendo todas essas áreas. Isso torna o colecionismo de tectitos amplo em que é possível, de maneira realista, controlar e acompanhar todo o espectro de ocorrências conhecidas. Utilize o quadro como um guia da sua coleção!

Embora sejam objetos geológicos, os tectitos têm fascinado culturas humanas por milênios. Já foram utilizados como ferramentas líticas pré-históricas, amuletos religiosos e até em rituais xamânicos, devido à sua origem "cósmica" e aparência sobrenatural. Na era moderna, são valorizados por colecionadores, museus, cientistas planetários e também como peças para joalheria artesanal de alto valor..

Os tectitos, portanto, não são apenas belos e raros – são testemunhos sólidos de eventos catastróficos que moldaram a história do planeta. Cada peça carrega em si informações preciosas sobre a geologia da Terra, os impactos extraterrestres e os processos físicos extremos do nosso sistema solar.

Agradecimentos a Rodrigo Guerra por ceder a planilha para que eu possa disponibilizar nesse espaço