NWA 13149
Fragmento 1.525g
- País: Northwest Africa
- Ano achado: 2019
- Classificação: Acondrito Eucrito
- Massa total: 0,251 kg
- Queda observada: Não
NWA 13149
Encontrado em forma de vários fragmentos, alguns exibindo crosta de fusão vítrea e escura, enquanto outros apresentam superfícies internas expostas, este meteorito representa um raro e valioso exemplo de rocha ígnea extraterrestre com textura ofítica bem desenvolvida. Essa textura, característica de resfriamento relativamente lento de magmas basálticos, revela um processo de formação geológica sofisticado que nos remete a corpos parentais diferenciados, como asteroides de grande porte ou mesmo crostas de planetas anões.
A análise petrográfica conduzida por J. Gattacceca (CEREGE) revelou uma matriz composta por piroxênios exsolvidos como fase dominante, além de plagioclásio, cromita, troilita, metal Fe-Ni e polimorfos de sílica — todos cristalizados em grãos de aproximadamente 700 μm, indicando uma história de solidificação em ambiente ígneo subsuperficial.
A geoquímica reforça sua natureza diferenciada: os piroxênios de baixo cálcio apresentam composição Fs62.2±0.8Wo3.3±1.0, enquanto os piroxênios ricos em cálcio atingem Fs30.8Wo39.8, sugerindo um longo histórico térmico com fases de equilíbrio e exsolução. O plagioclásio, por sua vez, é altamente cálcico (An88.1), reforçando a ligação com litologias basálticas análogas às encontradas em diogenitos ou eucritos — meteoritos HED ligados ao asteroide Vesta. A razão FeO/MnO = 34.7±2.1 também é típica de rochas provenientes de corpos planetários diferenciados.
O conjunto de suas características petrográficas e químicas coloca este meteorito entre os acondritos ígneos — rochas sem côndrulos que representam material cristalizado a partir de magma, distinto da maioria dos meteoritos primitivos. Sua composição e estrutura fazem dele um importante objeto de estudo para compreender a diferenciação e o vulcanismo primitivo de planetesimais, fornecendo pistas sobre os processos geológicos ativos nos primeiros milhões de anos do Sistema Solar.
Com o espécime tipo preservado no CEREGE e a massa principal pertencente ao colecionador Kuntz, este meteorito destaca-se não apenas por seu valor científico, mas também por sua beleza natural e raridade. É uma peça digna de coleções especializadas, que sintetiza em cada fragmento o registro silencioso de um passado magmático extraterrestre, agora ao alcance da ciência e da admiração humana.
Acondrito
Os acondritos são meteoritos rochosos que se distinguem por não apresentarem côndrulos, aquelas pequenas esferas milimétricas de silicato características dos condritos. A ausência de côndrulos indica que essas rochas passaram por processos geológicos mais complexos, como fusão parcial, diferenciação e cristalização de magma, o que as aproxima muito das rochas ígneas encontradas na Terra. Diferente dos sideritos, que representam o material denso e metálico do núcleo de corpos planetários, os acondritos são originários das regiões externas — como o manto e a crosta — de planetesimais e asteroides que, nos primórdios do Sistema Solar, foram suficientemente grandes para passar por processos de diferenciação. Quando esses corpos se formaram a partir da nebulosa solar, o calor gerado por impactos e decaimento de elementos radioativos derreteu seus interiores, permitindo a separação dos elementos mais pesados e leves. Os materiais metálicos migraram para o centro, enquanto os silicatos deram origem a lavas e rochas ígneas nas camadas mais externas. Os acondritos são, portanto, fragmentos dessas crostas e mantos, e fornecem uma visão única da atividade geológica em corpos extraterrestres primitivos.
Dentro da grande categoria dos acondritos, existem vários subgrupos distintos, cada um associado a diferentes corpos parentais e processos geológicos. Os acondritos primitivos, como as acapulcoitas e lodranitas, são uma transição entre condritos e rochas totalmente diferenciadas. Eles preservam características químicas do material original da nebulosa, mas passaram por aquecimento suficiente para fundir parcialmente e eliminar os côndrulos. Já as brachinitas são acondritos extremamente ricos em olivina e representam um tipo de manto primitivo. As ureilitas são outro tipo peculiar, com alto teor de carbono, grafite e até diamantes microscópicos, provavelmente formados por impacto. Entre os acondritos diferenciados mais estudados estão os do grupo HED: howarditas, eucritas e diogenitas. Eles têm origem no asteroide 4 Vesta e representam diferentes profundidades da crosta e do manto desse corpo. As eucritas são basaltos de superfície, as diogenitas vêm de camadas mais profundas e as howarditas são brechas formadas por colisões que misturaram os dois tipos. Outras classes importantes são os angritos, que têm uma mineralogia única e provavelmente se formaram em planetesimais distintos, e os aubritos, ricos em enstatita e com aparência muito clara, derivados de asteroides extremamente reduzidos.
Também fazem parte dos acondritos os meteoritos lunares e marcianos. Os meteoritos lunares são fragmentos arrancados da crosta da Lua por grandes impactos e que viajaram pelo espaço até atingir a Terra. São compostos por basalto, anortosito e outros tipos de rochas semelhantes às amostras trazidas pelas missões Apollo, e ajudam a ampliar nosso conhecimento sobre regiões não visitadas da Lua. Os meteoritos marcianos, por sua vez, são extremamente raros e valiosos. Eles compartilham com as análises feitas por sondas em Marte a mesma composição isotópica de gases aprisionados, especialmente o argônio, e nos fornecem informações preciosas sobre o vulcanismo, a presença de água e as condições atmosféricas do planeta vermelho em diferentes épocas. Essas amostras nos contam que Marte foi geologicamente ativo por bilhões de anos. Entre os marcianos há três grupos principais: as shergottitas, basaltos ricos em piroxeno; as nakhlitas, formadas por clinopiroxeno e com evidência de interação com água; e as chassignitas, compostas predominantemente por olivina.
Os acondritos, apesar de não representarem a maior parte dos meteoritos encontrados, são verdadeiros arquivos geológicos que documentam a história dos processos ígneos no Sistema Solar. Por sua semelhança com as rochas terrestres, eles também funcionam como pontes para compreendermos como nosso próprio planeta evoluiu desde seus primeiros estágios. Cada acondrito é uma peça-chave em um quebra-cabeça cósmico que revela como pequenos corpos primordiais deram origem a mundos inteiros — e como esses mundos foram moldados por calor, tempo e colisões. Para cientistas e colecionadores, são relíquias de um passado distante e silencioso, guardando em seus minerais as pistas da origem e evolução dos planetas.