NWA 7831

Fragmento 1.12g

  • País: Northwest Africa
  • Ano achado: 2013
  • Classificação: Acondrito Diogenito
  • Massa total: 20 kg
  • Queda observada: Não
R$ 110,00
NWA 7831

No vasto e enigmático deserto do Saara, próximo à localidade de Chouichiyat, uma descoberta notável emergiu do solo em 3 de março de 2013, quando moradores da região escavaram uma misteriosa massa enterrada. Tratava-se de um raro meteorito, posteriormente classificado como NWA 7831 — um acondrito diogenito, formado quase inteiramente por um mineral verde-translúcido que brilha sob a luz: o ortopiroxênio. Com uma massa inicial superior a 20 kg, este meteorito logo se fragmentou em pedaços menores após a extração, revelando seu interior cristalino e sua beleza incomum.

Os diogenitos pertencem ao grupo HED (howardito-eucrito-diogenito), e são considerados os representantes mais profundos da crosta do asteroide Vesta, um dos maiores corpos do cinturão de asteroides. Enquanto os eucritos e howarditos se formaram em camadas superficiais, os diogenitos são verdadeiros fragmentos de manto, formados em condições de alta temperatura e pressão, no interior profundo de um protoplaneta que, embora nunca tenha se tornado um planeta completo, passou por processos geológicos complexos. Estudar um diogenito como o NWA 7831 é como analisar o manto de um planeta primitivo, sem jamais perfurar seu interior.

Visualmente, o NWA 7831 é hipnotizante. Seu material é composto quase inteiramente por ortopiroxênio amarelo-esverdeado translúcido, entrecortado por veios de alteração terrestre que se apresentam como finas linhas alaranjadas. A estrutura mostra um arranjo cristalino limpo, com grãos metálicos livres de níquel, além de troilita, cromita, anortita, clinopiroxênio e até polimorfos de sílica, formando uma matriz sólida e elegante, como se fosse uma joia mineralógica vinda do coração do cosmos.

As análises geoquímicas e isotópicas confirmam sua natureza extraterrestre e revelam sua origem profunda. O ortopiroxênio, com composição estável (Fs28.1–28.3, Wo3.0–3.3), possui proporções FeO/MnO típicas de diogenitos. Os valores de Δ¹⁷O negativos (média de -0,25‰) obtidos por fluoração a laser, também o posicionam com clareza no campo HED, alinhando-o com amostras de Vesta coletadas por missões como a NASA Dawn.

Além de sua raridade e beleza, o que torna o NWA 7831 especialmente valioso é seu grau de preservação mineral, mesmo após milênios enterrado em um dos ambientes mais inóspitos do planeta. Os depósitos argilosos de alteração encontrados ao longo de suas fraturas não comprometem sua estrutura principal — um sinal de que ele resistiu bravamente às intempéries do tempo e da Terra.

Fragmentos de diogenitos como o NWA 7831 são verdadeiras janelas para o interior de mundos que quase se tornaram planetas, fósseis minerais que contam a história da formação e diferenciação de corpos celestes durante os primeiros milhões de anos do Sistema Solar. Ao estudá-lo, cientistas aprofundam nosso entendimento sobre os processos geológicos planetários primordiais, enquanto colecionadores e entusiastas admiram sua beleza bruta, translúcida e reluzente — uma herança cristalina de um mundo perdido.

Acondrito

Os acondritos são meteoritos rochosos que se distinguem por não apresentarem côndrulos, aquelas pequenas esferas milimétricas de silicato características dos condritos. A ausência de côndrulos indica que essas rochas passaram por processos geológicos mais complexos, como fusão parcial, diferenciação e cristalização de magma, o que as aproxima muito das rochas ígneas encontradas na Terra. Diferente dos sideritos, que representam o material denso e metálico do núcleo de corpos planetários, os acondritos são originários das regiões externas — como o manto e a crosta — de planetesimais e asteroides que, nos primórdios do Sistema Solar, foram suficientemente grandes para passar por processos de diferenciação. Quando esses corpos se formaram a partir da nebulosa solar, o calor gerado por impactos e decaimento de elementos radioativos derreteu seus interiores, permitindo a separação dos elementos mais pesados e leves. Os materiais metálicos migraram para o centro, enquanto os silicatos deram origem a lavas e rochas ígneas nas camadas mais externas. Os acondritos são, portanto, fragmentos dessas crostas e mantos, e fornecem uma visão única da atividade geológica em corpos extraterrestres primitivos.

Dentro da grande categoria dos acondritos, existem vários subgrupos distintos, cada um associado a diferentes corpos parentais e processos geológicos. Os acondritos primitivos, como as acapulcoitas e lodranitas, são uma transição entre condritos e rochas totalmente diferenciadas. Eles preservam características químicas do material original da nebulosa, mas passaram por aquecimento suficiente para fundir parcialmente e eliminar os côndrulos. Já as brachinitas são acondritos extremamente ricos em olivina e representam um tipo de manto primitivo. As ureilitas são outro tipo peculiar, com alto teor de carbono, grafite e até diamantes microscópicos, provavelmente formados por impacto. Entre os acondritos diferenciados mais estudados estão os do grupo HED: howarditas, eucritas e diogenitas. Eles têm origem no asteroide 4 Vesta e representam diferentes profundidades da crosta e do manto desse corpo. As eucritas são basaltos de superfície, as diogenitas vêm de camadas mais profundas e as howarditas são brechas formadas por colisões que misturaram os dois tipos. Outras classes importantes são os angritos, que têm uma mineralogia única e provavelmente se formaram em planetesimais distintos, e os aubritos, ricos em enstatita e com aparência muito clara, derivados de asteroides extremamente reduzidos.

Também fazem parte dos acondritos os meteoritos lunares e marcianos. Os meteoritos lunares são fragmentos arrancados da crosta da Lua por grandes impactos e que viajaram pelo espaço até atingir a Terra. São compostos por basalto, anortosito e outros tipos de rochas semelhantes às amostras trazidas pelas missões Apollo, e ajudam a ampliar nosso conhecimento sobre regiões não visitadas da Lua. Os meteoritos marcianos, por sua vez, são extremamente raros e valiosos. Eles compartilham com as análises feitas por sondas em Marte a mesma composição isotópica de gases aprisionados, especialmente o argônio, e nos fornecem informações preciosas sobre o vulcanismo, a presença de água e as condições atmosféricas do planeta vermelho em diferentes épocas. Essas amostras nos contam que Marte foi geologicamente ativo por bilhões de anos. Entre os marcianos há três grupos principais: as shergottitas, basaltos ricos em piroxeno; as nakhlitas, formadas por clinopiroxeno e com evidência de interação com água; e as chassignitas, compostas predominantemente por olivina.

Os acondritos, apesar de não representarem a maior parte dos meteoritos encontrados, são verdadeiros arquivos geológicos que documentam a história dos processos ígneos no Sistema Solar. Por sua semelhança com as rochas terrestres, eles também funcionam como pontes para compreendermos como nosso próprio planeta evoluiu desde seus primeiros estágios. Cada acondrito é uma peça-chave em um quebra-cabeça cósmico que revela como pequenos corpos primordiais deram origem a mundos inteiros — e como esses mundos foram moldados por calor, tempo e colisões. Para cientistas e colecionadores, são relíquias de um passado distante e silencioso, guardando em seus minerais as pistas da origem e evolução dos planetas.