Serra Pelada

Fragmento 0.15g

  • País: Brasil
  • Ano queda: 2017
  • Classificação: Acondrito Eucrito
  • Massa total: 12 kg
  • Queda observada: Sim
R$ 108,00
Serra Pelada

No coração do sudeste do Pará, em uma manhã aparentemente comum de 29 de junho de 2017, o céu foi rasgado por um bólido incandescente, que deixou rastro de fumaça e causou estrondos tão intensos que muitos moradores pensaram se tratar de um desastre aéreo. Eram aproximadamente 10h35 da manhã, quando moradores de Marabá, Eldorado dos Carajás e Parauapebas ouviram de quatro a seis explosões em sequência. Mas foi no vilarejo de Serra Pelada — local lendário por sua história com o ouro — que o destino reservou um novo tesouro, vindo não da terra, mas das estrelas.

Próximo à Escola Rita Lima de Souza, alunos e o vigilante Sr. Manoel da Silva testemunharam a queda de uma rocha logo após os estrondos. Uma trilha de fumaça e poeira levantada no impacto marcavam o local onde a pedra, de cerca de 40 cm de eixo maior, atingiu o solo. A rocha quebrou-se ao colidir com o chão e foi rapidamente recolhida e repartida entre moradores. Pouco tempo depois, outra peça de 5,4 kg caiu a poucos metros de um eletricista que trabalhava próximo — um fragmento com 80% da crosta de fusão intacta, mostrando tanto crosta primária quanto secundária, e revelando, na face quebrada, um interior fresco, claro e não oxidado.

O caso despertou atenção de pesquisadores. O geólogo local Marcilio Cardoso Rocha fez as primeiras análises e encaminhou amostras ao Museu Nacional (MNRJ). Confirmou-se então: tratava-se de um acondrito HED do tipo eucrito, uma rocha ígnea extraterrestre, formada a partir de magma em um corpo planetário primitivo. O Serra Pelada passou a ocupar lugar de destaque na história científica brasileira por ser o segundo eucrito já registrado no Brasil, sucedendo apenas ao clássico Serra de Magé, que caiu em 1923. Trata-se, portanto, de uma peça rara, preciosa e altamente relevante para o estudo da evolução planetária.

Do ponto de vista científico, o meteorito Serra Pelada revela uma estrutura brechada monomíctica, composta por diversos fragmentos de rocha consolidada em uma matriz fina, com grãos de plagioclásio e piroxênios variando entre 70 µm e 700 µm, além de veios de fusão causados por impactos. A presença de texturas ofíticas e subofíticas, além de minerais acessórios como sílica, ilmenita, cromita, troilita e ferro metálico de baixo teor de níquel, confirma uma origem magmática, com histórico de choques múltiplos sofridos ao longo de bilhões de anos.

Os dados geoquímicos reforçam essa origem: a amostra analisada revelou piroxênios pobres em cálcio (Fs52,5 Wo11,3) e plagioclásio cálcico (An87,6), com variações muito pequenas entre os diferentes clastos — um sinal de que todos compartilham a mesma origem composicional. Trata-se de uma rocha que foi formada na crosta de um corpo planetário diferenciado, ejetada ao espaço após um impacto violento, vagando pelo Sistema Solar por milênios até cruzar o caminho da Terra.

Tudo indica que sua origem está no asteroide 4 Vesta, o segundo maior do cinturão principal, e o mais provável corpo parental dos meteoritos HED (howarditos, eucritos e diogenitos). Lá, entre camadas de crosta e manto, formaram-se os eucritos a partir de resfriamento de lavas basálticas — rochas que, embora frias hoje, foram um dia magma fervente na superfície de um pequeno planeta em formação.

A queda documentada do meteorito Serra Pelada, com fragmentos resgatados imediatamente após o impacto e distribuídos entre moradores e pesquisadores, o torna não apenas cientificamente valioso, mas também historicamente emblemático. Um símbolo do acaso cósmico e do encontro entre o céu e a Terra, entre ciência e cotidiano. Um pedaço da crosta de um mundo antigo que caiu no solo de uma vila famosa por ouro, mas que agora guarda um novo tesouro — forjado não nas profundezas da Terra, mas nas fornalhas de um mundo perdido.

Ter um fragmento do meteorito Serra Pelada é mais do que possuir uma rocha rara: é tocar uma porção da história geológica de outro corpo celeste, testemunhar um processo que antecede a formação da Terra e entender, em um grão de basalto extraterrestre, a grande arquitetura do Sistema Solar. É ciência, mistério, raridade e beleza — tudo reunido em um fragmento que, por obra do acaso, caiu no solo brasileiro.

Acondrito

Os acondritos são meteoritos rochosos que se distinguem por não apresentarem côndrulos, aquelas pequenas esferas milimétricas de silicato características dos condritos. A ausência de côndrulos indica que essas rochas passaram por processos geológicos mais complexos, como fusão parcial, diferenciação e cristalização de magma, o que as aproxima muito das rochas ígneas encontradas na Terra. Diferente dos sideritos, que representam o material denso e metálico do núcleo de corpos planetários, os acondritos são originários das regiões externas — como o manto e a crosta — de planetesimais e asteroides que, nos primórdios do Sistema Solar, foram suficientemente grandes para passar por processos de diferenciação. Quando esses corpos se formaram a partir da nebulosa solar, o calor gerado por impactos e decaimento de elementos radioativos derreteu seus interiores, permitindo a separação dos elementos mais pesados e leves. Os materiais metálicos migraram para o centro, enquanto os silicatos deram origem a lavas e rochas ígneas nas camadas mais externas. Os acondritos são, portanto, fragmentos dessas crostas e mantos, e fornecem uma visão única da atividade geológica em corpos extraterrestres primitivos.

Dentro da grande categoria dos acondritos, existem vários subgrupos distintos, cada um associado a diferentes corpos parentais e processos geológicos. Os acondritos primitivos, como as acapulcoitas e lodranitas, são uma transição entre condritos e rochas totalmente diferenciadas. Eles preservam características químicas do material original da nebulosa, mas passaram por aquecimento suficiente para fundir parcialmente e eliminar os côndrulos. Já as brachinitas são acondritos extremamente ricos em olivina e representam um tipo de manto primitivo. As ureilitas são outro tipo peculiar, com alto teor de carbono, grafite e até diamantes microscópicos, provavelmente formados por impacto. Entre os acondritos diferenciados mais estudados estão os do grupo HED: howarditas, eucritas e diogenitas. Eles têm origem no asteroide 4 Vesta e representam diferentes profundidades da crosta e do manto desse corpo. As eucritas são basaltos de superfície, as diogenitas vêm de camadas mais profundas e as howarditas são brechas formadas por colisões que misturaram os dois tipos. Outras classes importantes são os angritos, que têm uma mineralogia única e provavelmente se formaram em planetesimais distintos, e os aubritos, ricos em enstatita e com aparência muito clara, derivados de asteroides extremamente reduzidos.

Também fazem parte dos acondritos os meteoritos lunares e marcianos. Os meteoritos lunares são fragmentos arrancados da crosta da Lua por grandes impactos e que viajaram pelo espaço até atingir a Terra. São compostos por basalto, anortosito e outros tipos de rochas semelhantes às amostras trazidas pelas missões Apollo, e ajudam a ampliar nosso conhecimento sobre regiões não visitadas da Lua. Os meteoritos marcianos, por sua vez, são extremamente raros e valiosos. Eles compartilham com as análises feitas por sondas em Marte a mesma composição isotópica de gases aprisionados, especialmente o argônio, e nos fornecem informações preciosas sobre o vulcanismo, a presença de água e as condições atmosféricas do planeta vermelho em diferentes épocas. Essas amostras nos contam que Marte foi geologicamente ativo por bilhões de anos. Entre os marcianos há três grupos principais: as shergottitas, basaltos ricos em piroxeno; as nakhlitas, formadas por clinopiroxeno e com evidência de interação com água; e as chassignitas, compostas predominantemente por olivina.

Os acondritos, apesar de não representarem a maior parte dos meteoritos encontrados, são verdadeiros arquivos geológicos que documentam a história dos processos ígneos no Sistema Solar. Por sua semelhança com as rochas terrestres, eles também funcionam como pontes para compreendermos como nosso próprio planeta evoluiu desde seus primeiros estágios. Cada acondrito é uma peça-chave em um quebra-cabeça cósmico que revela como pequenos corpos primordiais deram origem a mundos inteiros — e como esses mundos foram moldados por calor, tempo e colisões. Para cientistas e colecionadores, são relíquias de um passado distante e silencioso, guardando em seus minerais as pistas da origem e evolução dos planetas.