
Porangaba
Fragmento 0.012g
- País: Brasil
- Ano queda: 2015
- Classificação: Condrito L4
- Massa total: 0,976 kg
- Queda observada: Sim
Porangaba
Na tarde de 9 de janeiro de 2015, às 15h35 pelo horário local, o céu do interior paulista foi palco de um espetáculo celeste raro e poderoso. Um bólido diurno extremamente luminoso atravessou os céus de uma ampla região do estado de São Paulo, acompanhado de um estrondo seco e vibrante, ouvido em diversos municípios. Mas foi na zona rural de Porangaba que o céu encontrou a Terra — e revelou, àqueles atentos ao acaso, um fragmento milenar vindo das origens do Sistema Solar.
O primeiro a testemunhar a queda foi Julio Carvalho da Silva, que estava com seu filho Eduardo quando ouviram uma sucessão de barulhos impactantes e viram uma pedra cair a poucos metros de onde estavam. No chão, uma pequena cratera de cerca de 10 cm de diâmetro por 25 cm de profundidade indicava o local de impacto. Eduardo correu chamar Paulo Gama, que, com cautela, foi o primeiro a tocar na rocha escura, ainda morna do atrito com a atmosfera. A peça pesava 450 g, com crosta de fusão quase completa, e foi rapidamente guardada. No dia seguinte, outro fragmento, com 520 g, foi encontrado pelo Sr. José Maria e seu sobrinho, também em meio à comoção provocada pelo estrondo e pela curiosidade dos moradores locais.
O caso foi reportado nas redes sociais por Carlos Cornejo e, posteriormente, ganhou destaque internacional nos fóruns da comunidade meteoritológica. O pesquisador Andre L. R. Moutinho recuperou ainda duas pequenas amostras adicionais, de 2,9 g e 3,5 g, completando o registro de uma queda testemunhada e documentada com precisão — uma raridade na história dos meteoritos brasileiros.
O meteorito Porangaba é um exemplar notável de condrito ordinário do grupo L, classificado como tipo petrológico 4, com baixo grau de choque (S2) e intemperismo nulo (W0). Essas características fazem dele uma peça excepcionalmente bem preservada, ideal para estudo científico e para colecionadores exigentes. Os condritos como Porangaba são rochas primordiais do Sistema Solar, formadas há 4,56 bilhões de anos, quando poeira cósmica e gotículas minerais fundidas — os côndrulos — começaram a se aglutinar no disco protoplanetário em torno do jovem Sol.
Ao observar uma superfície quebrada do Porangaba, nota-se a presença de côndrulos bem definidos e salientes, de diferentes tamanhos e tipos, incluindo texturas como PO (porfirítico), RP (radiado), PP (porfirítico-piroxena), BO (barrado) e POP (porfirítico-olivina-piroxena). Em seção delgada, essa diversidade revela um ambiente dinâmico de formação, onde minerais como olivina (Fa23.7) e piroxênios pobres em cálcio (Fs20.5 Wo1.0) se solidificaram em microambientes distintos. Grãos metálicos de ferro-níquel representam cerca de 6% da área, frequentemente associados a troilita, kamacita e plessita, compondo o tecido metálico que une essa rocha ao passado planetário.
A matriz do meteorito apresenta recristalização moderada, mas a ausência de grãos visíveis de plagioclásio indica que o material não atingiu graus elevados de metamorfismo, conservando parte importante de sua estrutura original. O fraco estágio de choque (S2) preservou as texturas internas e os minerais acessórios, que mostram extinção ondulante leve, sinal de eventos de impacto suaves, comuns nos corpos menores do cinturão de asteroides.
Os condritos como o Porangaba são mais do que fragmentos rochosos: são relíquias da nebulosa solar, fósseis minerais que carregam as assinaturas químicas e isotópicas dos primeiros momentos do Sistema Solar. Eles são anteriores à Terra, à Lua e aos planetas, e sua queda, documentada e recuperada em estado fresco, permite à ciência investigar os ingredientes originais dos mundos.
Hoje, os fragmentos do meteorito Porangaba estão distribuídos entre instituições e colecionadores. O Museu Nacional do Rio de Janeiro conserva a amostra-tipo de 20 g, enquanto as massas principais estão sob a guarda de seus descobridores. Cada pedaço é uma cápsula do tempo cósmico — um pedaço autêntico da história universal que caiu no quintal de um lavrador atento, iluminando por um instante a vida cotidiana com o brilho silencioso do infinito.
O Porangaba é, portanto, mais que um meteorito. É uma memória do nascimento estelar, uma rocha que resistiu a bilhões de anos de colisões e escuridão para, por fim, pousar suavemente entre as árvores e pastagens de São Paulo — como se quisesse nos lembrar que o céu ainda nos visita, e que os segredos do Universo estão, às vezes, a poucos passos da porta de casa.

Condrito
Representam o tipo mais comum de meteoritos e guardam em seu interior informações que ajudam os cientistas a desvendar a formação do sistema solar. O termo “condrito” é originado de “côndrulos”, que correspondem a pequenas formações em forma de grânulos envoltos em uma matriz sólida. Esses grânulos representam a matéria primordial da nuvem de gás que originou o sistema solar com todos os planetas e o sol. O material contido nesses meteoritos é praticamente idêntico ao material encontrado no sol com exceção dos materiais leves como hidrogênio e hélio. Assim, os meteoritos condritos são de fundamental importância para a ciência, pois permite abrir uma janela ao passado de 4.5 bilhões de anos e analisar as substâncias e estruturas primitivas presentes nesse estágio de evolução do sistema solar.
Classificação Petrológica dos Condritos
Ausentes 1 |
Esparsos 2 |
Abundantes Distintos 3 |
4 | Indistintos 5 |
6 | ||
Ordinários(OC) |
H |
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L |
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LL |
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Carbonaceos (C) |
CI |
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CM |
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CR |
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CO |
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CV |
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CK |
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Rumuritos (R ) |
R |
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Estantitos (E) |
EH |
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EL |
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Condritos Ordinários (OC)
Condritos Enstatitos (E)
Condritos Rumurutitos (R)
Condritos Carbonáceos (C)
Teoria de formação dos côndrulos:
A teoria mais aceita diz que os côndrulos seriam a poeira que ficava mais próxima ao Sol e que, quando ele começou a produzir calor acabou derretendo e formou pequenas gotículas que depois foram sopradas pelo vento solar e acabaram se resfriando e se misturando com o resto da poeira e com os flocos de metal (que originaram a matriz dos meteoritos). Outra teoria mais recente diz que o aquecimento também pode ter ocorrido devido a indução de correntes elétricas na poeira (que tinha alta resistência e por isso aqueciam) devido ao forte campo magnético do Sol. Mais estudos estão sendo feitos, mas é possivel que ambos os efeitos possam ter ocorrido.