
São José do Rio Preto
Fragmento 0.007g
- País: Brasil
- Ano queda: 1962
- Classificação: Condrito H4
- Massa total: 0,927 kg
- Queda observada: Sim
São José do Rio Preto
Na manhã do dia 14 de agosto de 1962, o céu sobre o interior de São Paulo parecia comum. O sol nascia sobre as terras da Fazenda Urtiga, a cerca de 12 km da cidade de São José do Rio Preto, quando um fenômeno extraordinário rompeu a rotina da paisagem rural. Por volta das 8 horas, um corpo celeste atravessou a atmosfera e caiu com grande estrondo, a apenas 3 metros de distância do lavrador Raimundo Golveia Salgado, que por pouco não foi atingido. Sem causar cratera, o objeto — uma rocha escura e compacta pesando 927 gramas — mergulhou no solo com força suficiente para gerar um ruído marcante e surpreender todos ao redor.
Meia hora após o impacto, a pedra foi recolhida, ainda quente ao toque, tão quente que não podia ser manuseada imediatamente. A notícia da queda se espalhou rapidamente, atraindo o interesse do Professor Arid, que prontamente se dirigiu ao local e, em diálogo com o proprietário da fazenda, o senhor João Bastos, garantiu a doação da peça para estudos científicos. Desde então, o meteorito São José do Rio Preto se tornou um dos casos mais bem documentados de queda presenciada no Brasil, com registros publicados em estudos de Coutinho e Arid (1963) e Gomes et al. (1978), além de estar listado nas obras referenciais de Hey (1966) e Hutchison et al. (1977).
Trata-se de um condrito ordinário do tipo H4, pertencente ao grupo dos chamados olivina-bronzita condritos. Meteoritos dessa categoria são formados por uma mistura complexa de minerais primordiais — como olivina, bronzita (ortopiroxena) e ligas metálicas de ferro-níquel — misturados a componentes menores como troilita, plagioclásio, diopsídio, cromita, além de fases acessórias como apatita e ilmenita. Essa composição mineralógica revela que o São José do Rio Preto é uma rocha primitiva, um fragmento não diferenciado do disco protoplanetário que cercava o jovem Sol há 4,56 bilhões de anos.
Sua textura interna exibe uma matriz microcristalina de grão fino onde se destacam côndrulos bem preservados — pequenas esferas de minerais que se fundiram e solidificaram no espaço antes de se agregarem a um corpo maior. Esses côndrulos barrados, excêntrico-radiais e porfiríticos registram as condições de alta temperatura e baixa pressão do início do Sistema Solar, funcionando como microcápsulas do tempo cósmico. Em algumas regiões, observa-se também vidro recristalizado, evidência de metamorfismo térmico moderado sofrido dentro de seu corpo parental, típico dos condritos tipo H4.
Os condritos como o São José do Rio Preto são verdadeiras relíquias da nebulosa solar, materiais que não passaram por processos intensos de fusão ou diferenciação, preservando sua assinatura mineral e isotópica original. Eles oferecem aos cientistas uma visão direta das condições físicas e químicas que moldaram os primeiros corpos do Sistema Solar — incluindo os próprios blocos formadores da Terra e dos outros planetas rochosos.
Mais do que uma rocha espacial, o meteorito São José do Rio Preto representa a rara convergência entre o acaso do impacto e o rigor da ciência. Testemunhado por olhos humanos e estudado por gerações de pesquisadores, ele é um elo entre o cotidiano da vida rural e as forças que moldaram o cosmos. Seu impacto foi pequeno, mas sua importância é profunda: uma lembrança de que, mesmo em terras simples, caem fragmentos das estrelas — e com eles, as chaves para entender de onde viemos.
Possuir ou estudar um fragmento do São José do Rio Preto é acessar uma memória mineral que antecede a Terra, um vestígio intacto da construção planetária, preservado com clareza, testemunhado em solo brasileiro — e reverenciado pela ciência global.

Condrito
Representam o tipo mais comum de meteoritos e guardam em seu interior informações que ajudam os cientistas a desvendar a formação do sistema solar. O termo “condrito” é originado de “côndrulos”, que correspondem a pequenas formações em forma de grânulos envoltos em uma matriz sólida. Esses grânulos representam a matéria primordial da nuvem de gás que originou o sistema solar com todos os planetas e o sol. O material contido nesses meteoritos é praticamente idêntico ao material encontrado no sol com exceção dos materiais leves como hidrogênio e hélio. Assim, os meteoritos condritos são de fundamental importância para a ciência, pois permite abrir uma janela ao passado de 4.5 bilhões de anos e analisar as substâncias e estruturas primitivas presentes nesse estágio de evolução do sistema solar.
Classificação Petrológica dos Condritos
Ausentes 1 |
Esparsos 2 |
Abundantes Distintos 3 |
4 | Indistintos 5 |
6 | ||
Ordinários(OC) |
H |
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L |
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LL |
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Carbonaceos (C) |
CI |
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CM |
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CR |
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CO |
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CV |
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CK |
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Rumuritos (R ) |
R |
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Estantitos (E) |
EH |
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EL |
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Condritos Ordinários (OC)
Condritos Enstatitos (E)
Condritos Rumurutitos (R)
Condritos Carbonáceos (C)
Teoria de formação dos côndrulos:
A teoria mais aceita diz que os côndrulos seriam a poeira que ficava mais próxima ao Sol e que, quando ele começou a produzir calor acabou derretendo e formou pequenas gotículas que depois foram sopradas pelo vento solar e acabaram se resfriando e se misturando com o resto da poeira e com os flocos de metal (que originaram a matriz dos meteoritos). Outra teoria mais recente diz que o aquecimento também pode ter ocorrido devido a indução de correntes elétricas na poeira (que tinha alta resistência e por isso aqueciam) devido ao forte campo magnético do Sol. Mais estudos estão sendo feitos, mas é possivel que ambos os efeitos possam ter ocorrido.