
Tres Irmaos
Fatia 0.212g
- País: Brasil
- Ano achado: 2017
- Classificação: Condrito L6
- Massa total: 0,89 kg
- Queda observada: Não
Tres Irmaos
Em uma manhã clara e ensolarada de 26 de maio de 2017, no sertão da Bahia, o silêncio rural de Palmas de Monte Alto foi interrompido por um estrondo incomum. Eram cerca de 11h30 quando detonações secas ecoaram pela região. Moradores locais pensaram tratar-se de explosões de uma pedreira ou talvez obras na linha de trem. Mas algo estava diferente. A sra. Euzani Pais, intrigada com o som, ouviu um assobio cortante, seguido por um impacto seco. Ao sair de casa, viu um pequeno redemoinho de poeira girando na estrada arenosa da fazenda. Poucos metros adiante, sua filha e neta — Sirlene da Silva Pais e Márcia Eduarda Pais — encontraram um buraco recém-formado, com uma pedra escura repousando cerca de seis metros de distância. Naquele instante, sem saber, testemunhavam a chegada de um visitante do cosmos.
A notícia logo se espalhou. O professor de história Nilton A. Azevedo gravou imagens e publicou o caso na internet, chamando atenção de pesquisadores e entusiastas. Poucos dias depois, Andre L. R. Moutinho, M. E. Zucolotto (MNRJ) e Wilton Carvalho (GPA/UFBA), sob coordenação de Débora Rios, viajaram até o local, verificaram a autenticidade do achado e, em 2 de junho, adquiriram o meteorito em consórcio com o prefeito da cidade. Assim foi oficialmente registrada a queda do meteorito Três Irmãos, um fragmento milenar que viajou bilhões de quilômetros para terminar sua jornada entre famílias do sertão baiano.
O Três Irmãos é um condrito ordinário, um dos tipos mais antigos e fundamentais da meteoritologia. Ao contrário dos meteoritos metálicos ou acondritos, os condritos são rochas primordiais, formadas diretamente do material do disco protoplanetário que envolvia o Sol jovem, há cerca de 4,56 bilhões de anos. São compostos por côndrulos — pequenas esferas minerais fundidas —, grãos metálicos de ferro-níquel, silicatos e materiais orgânicos primitivos. Esses corpos rochosos, os planetesimais, foram os blocos de construção dos planetas. Alguns cresceram, fundiram-se, diferenciaram-se. Outros, como o que originou o Três Irmãos, permaneceram praticamente intactos desde sua formação, guardando em sua estrutura interna os segredos químicos e isotópicos do nascimento do Sistema Solar.
Ao cortar um fragmento do Três Irmãos, revela-se uma paisagem mineral hipnotizante: matriz escura pontilhada de brilhos metálicos, com côndrulos visíveis a olho nu, como fósseis cósmicos incrustados em rocha. A composição do meteorito mostra equilíbrio químico e mineralógico, indicando que, embora tenha passado por certo grau de aquecimento e metamorfismo, ainda preserva traços da matéria original que circundava o Sol recém-nascido. É uma cápsula do tempo sideral — uma amostra sólida das primeiras reações químicas e físicas que deram origem a tudo o que conhecemos.
O valor do meteorito Três Irmãos vai muito além de seu peso ou aparência. Ele é um elo entre o passado interestelar e o presente terrestre, uma ponte mineral que conecta o sertão da Bahia aos confins do espaço profundo. Sua queda foi testemunhada, registrada e estudada — o que o torna ainda mais valioso para a ciência, pois eventos observados permitem calcular trajetórias, velocidades, ângulos de entrada e até, em alguns casos, sua origem asteroidal.
Possuir ou estudar um fragmento do meteorito Três Irmãos é tocar a matéria-prima dos mundos, sentir nas mãos um pedaço de poeira ancestral que não foi absorvido por nenhum planeta, mas que persistiu — solitário — pelos bilhões de anos em que estrelas nasceram e morreram. É um lembrete silencioso de que o cosmos continua ativo, generoso em seus sinais, e que até mesmo em uma estrada de terra esquecida pelo mapa, pode repousar uma pedra caída do céu — com bilhões de anos de histórias guardadas em seu interior.

Condrito
Representam o tipo mais comum de meteoritos e guardam em seu interior informações que ajudam os cientistas a desvendar a formação do sistema solar. O termo “condrito” é originado de “côndrulos”, que correspondem a pequenas formações em forma de grânulos envoltos em uma matriz sólida. Esses grânulos representam a matéria primordial da nuvem de gás que originou o sistema solar com todos os planetas e o sol. O material contido nesses meteoritos é praticamente idêntico ao material encontrado no sol com exceção dos materiais leves como hidrogênio e hélio. Assim, os meteoritos condritos são de fundamental importância para a ciência, pois permite abrir uma janela ao passado de 4.5 bilhões de anos e analisar as substâncias e estruturas primitivas presentes nesse estágio de evolução do sistema solar.
Classificação Petrológica dos Condritos
Ausentes 1 |
Esparsos 2 |
Abundantes Distintos 3 |
4 | Indistintos 5 |
6 | ||
Ordinários(OC) |
H |
|
|
||||
L |
|
|
|||||
LL |
|
|
|||||
Carbonaceos (C) |
CI |
|
|
|
|
|
|
CM |
|
|
|
|
|
|
|
CR |
|
|
|
|
|
|
|
CO |
|
|
|
|
|
|
|
CV |
|
|
|
|
|
|
|
CK |
|
|
|
|
|
|
|
Rumuritos (R ) |
R |
|
|
|
|
|
|
Estantitos (E) |
EH |
|
|
|
|
|
|
EL |
|
|
|
|
|
|
Condritos Ordinários (OC)
Condritos Enstatitos (E)
Condritos Rumurutitos (R)
Condritos Carbonáceos (C)
Teoria de formação dos côndrulos:
A teoria mais aceita diz que os côndrulos seriam a poeira que ficava mais próxima ao Sol e que, quando ele começou a produzir calor acabou derretendo e formou pequenas gotículas que depois foram sopradas pelo vento solar e acabaram se resfriando e se misturando com o resto da poeira e com os flocos de metal (que originaram a matriz dos meteoritos). Outra teoria mais recente diz que o aquecimento também pode ter ocorrido devido a indução de correntes elétricas na poeira (que tinha alta resistência e por isso aqueciam) devido ao forte campo magnético do Sol. Mais estudos estão sendo feitos, mas é possivel que ambos os efeitos possam ter ocorrido.