
Conceicao do Tocantins
Fatia 1.03g
- País: Brasil
- Ano achado: 2020
- Classificação: Siderito Hexaedrito IIAB
- Massa total: 0,449 kg
- Queda observada: Não
Conceicao do Tocantins
No interior quente e silencioso do Tocantins, entre colinas discretas e campos usados para garimpo artesanal, um fragmento antigo do espaço aguardava — enterrado a poucos palmos da superfície, esquecido sob a terra por milhares de anos. Em outubro de 2020, durante uma busca rotineira por ouro com o auxílio de um detector de metais, um garimpeiro encontrou algo muito mais raro: uma rocha pesada, densa e de aparência incomum, soterrada a apenas 30 centímetros de profundidade, em uma fazenda na zona rural do município de Conceição do Tocantins.
Sem saber exatamente o que havia encontrado, o garimpeiro levou a peça para casa. A descoberta, no entanto, ganhou novos rumos quando sua cunhada compartilhou imagens da “pedra” em uma rede social. As fotos chamaram a atenção de Gabriel Gonçalves, que suspeitou tratar-se de um meteorito. A amostra foi então enviada ao pesquisador Andre Moutinho, que confirmou: tratava-se de um autêntico visitante do espaço, um fragmento de outro mundo que finalmente havia revelado sua presença no solo brasileiro.
Embora os dados científicos completos ainda estejam sendo elaborados, o meteorito Conceição do Tocantins representa um capítulo notável da meteoritologia nacional. Sua descoberta recente e casual demonstra como o céu ainda se conecta ao chão, mesmo quando menos esperamos. E mais que isso: ele nos dá a chance de estudar a origem profunda dos sideritos e acondritos, rochas forjadas nos primeiros milhões de anos da formação do Sistema Solar, quando nuvens de poeira cósmica colapsaram sob sua própria gravidade para formar o Sol e os corpos planetários.
Meteoritos como esse são remanescentes de planetesimais diferenciados — antigos blocos rochosos que, ao crescerem, acumularam calor interno suficiente para se fundirem parcialmente, separando seus constituintes em camadas: núcleos metálicos, mantos de silicato e crostas externas. Quando esses corpos colidiram entre si, fragmentos foram lançados ao espaço. Alguns, como o de Conceição, viajaram silenciosamente por bilhões de anos antes de mergulhar na atmosfera terrestre e repousar em nossas paisagens.
Seja um siderito metálico, que representa o coração de um pequeno planeta que nunca chegou a se completar, ou um acondrito rochoso, cristalizado a partir do magma de um corpo ancestral, o meteorito Conceição do Tocantins é um registro físico do tempo cósmico. Seu exterior pode mostrar crosta de fusão escurecida, formada pelo atrito na atmosfera; seu interior, se cortado e estudado, revelará texturas, minerais e estruturas que não pertencem ao nosso mundo — mas sim a uma história que começou muito antes da Terra existir.
A beleza dessa descoberta não está apenas em sua raridade, mas no encontro improvável entre um fragmento do espaço e um buscador da Terra. Uma busca por ouro revelou algo ainda mais valioso: um elo direto com as origens do cosmos, encontrado por acaso e reconhecido graças à curiosidade e colaboração de pessoas atentas. Hoje, o meteorito Conceição do Tocantins representa não apenas uma peça científica, mas um símbolo de como o universo nos presenteia, mesmo nos cantos mais inesperados.
Possuir um fragmento desse meteorito é tocar o passado estelar, sentir nas mãos a densidade de um tempo ancestral, onde mundos eram formados e destruídos em silêncio, muito antes do primeiro ser humano olhar para o céu com admiração. É um lembrete poderoso de que, entre as serras, os rios e o cerrado, ainda existem histórias cósmicas esperando para serem contadas.

Siderito
Assim como os acondritos, os sideritos são provenientes de corpos parentais cuja matéria primordial sofreu diferenciação. Este material, originário da nebulosa que formou o sistema solar e presente nos meteoritos condritos, sofreu a ação gravitacional ao longo de bilhões de anos dando origem a todos os corpos que conhecemos hoje no sistema solar como o sol, planetas, asteróides, etc. Os sideritos são meteoritos provenientes do núcleo desses corpos parentais onde o material mais pesado se concentrou como o Ferro e Níquel. Apesar de haver um grande número de meteoritos ferrosos já catalogados, a grande maioria não teve a sua queda observada. Somente uma pequena parcela das quedas observadas corresponde a meteoritos sideritos, a grande maioria é representada pelos condritos. Levando-se a conclusão que os meteoritos ferrosos são relativamente mais raros que os rochosos em nosso sistema solar.
Classe estrutural
|
Símbolo
|
Camacita [mm]
|
Níquel
[%] |
Grupo químico relacionado
|
Hexaedritos
|
H
|
> 50
|
4.5 – 6.5
|
IIAB, IIG
|
Octaedrito Muito Grosseiro
|
Ogg
|
3.3 – 50
|
6.5 – 7.2
|
IIAB, IIG
|
Octaedrito Grosseiro
|
Og
|
1.3 – 3.3
|
6.5 – 8.5
|
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
|
Octaedrito Médio
|
Om
|
0.5 – 1.3
|
7.4 – 10
|
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
|
Octaedrito Fino
|
Of
|
0.2 – 0.5
|
7.8 – 13
|
IID, IIICD, IIIF, IVA
|
Octaedrito Muito Fino
|
Off
|
< 0.2
|
7.8 – 13
|
IIC, IIICD
|
Octaedrito Plessítico
|
Opl
|
< 0.2
|
9.2 – 18
|
IIC, IIF
|
Ataxito
|
D
|
-
|
> 16
|
IIF, IVB
|