
São João Nepomuceno
Fatia 8.388g
- País: Brasil
- Ano achado: 1960
- Classificação: Siderito IVA-an
- Massa total: 15,3 kg
- Queda observada: Não
São João Nepomuceno
Entre as colinas da Zona da Mata Mineira, próximo à cidade de São João Nepomuceno, um fragmento enigmático do cosmos foi um dia descoberto — pesado, metálico, silencioso e repleto de histórias que ainda hoje permanecem em parte ocultas. Com cerca de 15 kg e dimensões aproximadas de 54 × 20 × 11 cm, esse meteorito foi doado ao Museu Nacional pelo Dr. Sylvio Froes de Abreu, então diretor do Instituto Nacional de Tecnologia. A peça chegou com a informação de que fora encontrada nas redondezas da cidade, embora investigações posteriores tenham lançado dúvidas sobre a procedência exata. Ainda assim, sua existência é real — e absolutamente excepcional.
Nomeado São João Nepomuceno, este meteorito pertence a um grupo extremamente raro dentro da meteoritologia: os meteoritos metálicos contendo silicatos ricos em sílica. Trata-se de um octaedrito fino, com padrão de Widmanstätten bem definido e lamelas de 0,35 mm de largura, e classificado como grupo IVA - anômalo. A anomalia, neste caso, é justamente o que o torna precioso: sua composição não se encaixa perfeitamente nos padrões conhecidos desse grupo, devido à presença de numerosas inclusões de silicatos policristalinos — algo tão raro que, até hoje, apenas outro meteorito no mundo é considerado semelhante a ele: o meteorito Steinbach, da Alemanha.
Descoberto em 1724 na Turíngia, Steinbach é um meteorito lendário. Pesando cerca de 95 kg, ele também pertence ao grupo IVA e exibe a mesma combinação singular de metal e silicatos. O Steinbach chamou atenção desde os primórdios da meteoritologia por conter cristais de silicatos altamente refratários, o que sugere uma formação complexa e pouco comum. Por mais de dois séculos, acreditou-se que ele era único. E então, o São João Nepomuceno surgiu — silenciosamente — como irmão cósmico distante, talvez parte de um fragmento de corpo progenitor que jamais imaginamos.
Os resultados das análises químicas conduzidas por M. R. V. Silveira revelaram uma composição típica de um siderito: Fe 91,60%, Ni 7,92%, Co 0,4%, com pequenas quantidades de P, S, Si, Cu e traços de arsênio. Mas é justamente a presença de silício livre na forma de silicatos o que transforma o São João Nepomuceno de um siderito comum em uma joia científica. A hipótese mais aceita é que esse meteorito se formou na região de transição entre o núcleo metálico e o manto rochoso de um planetesimal diferenciado, onde metais e silicatos coexistiram sob condições específicas de temperatura e pressão, e, após bilhões de anos, foram expostos por uma colisão catastrófica.
Meteoritos como esse são raríssimos registros da complexidade da diferenciação planetária. Ao contrário dos sideritos comuns, formados no núcleo metálico, ou dos acondritos, derivados do manto, meteoritos com silicatos incorporados em matriz metálica representam zonas limítrofes de transição, interfaces internas de mundos primordiais que nunca chegaram a se tornar planetas completos. São janelas diretas para a arquitetura interna de corpos celestes destruídos — e as inclusões de silicatos são seus fósseis cristalinos.
Hoje, o meteorito São João Nepomuceno permanece como uma peça de imenso valor científico e histórico. Ainda não completamente descrito na literatura, ele representa um dos poucos exemplares conhecidos com essa composição híbrida, e o único do tipo no hemisfério sul. Sua estrutura interna, beleza metálica e raridade o tornam desejado tanto por estudiosos quanto por museus internacionais, embora sua origem exata ainda seja envolta em mistério.
Ter um fragmento do São João Nepomuceno é possuir uma das chaves mais raras para entender a formação do Sistema Solar. Ele é o testemunho de um limite geológico cósmico, um lugar onde ferro e rocha se fundiram em silêncio, sob pressões ancestrais, há mais de 4,5 bilhões de anos. Uma peça incomparável, que nos relembra que mesmo os meteoritos mais discretos podem carregar os segredos mais extraordinários das estrelas.

Siderito
Assim como os acondritos, os sideritos são provenientes de corpos parentais cuja matéria primordial sofreu diferenciação. Este material, originário da nebulosa que formou o sistema solar e presente nos meteoritos condritos, sofreu a ação gravitacional ao longo de bilhões de anos dando origem a todos os corpos que conhecemos hoje no sistema solar como o sol, planetas, asteróides, etc. Os sideritos são meteoritos provenientes do núcleo desses corpos parentais onde o material mais pesado se concentrou como o Ferro e Níquel. Apesar de haver um grande número de meteoritos ferrosos já catalogados, a grande maioria não teve a sua queda observada. Somente uma pequena parcela das quedas observadas corresponde a meteoritos sideritos, a grande maioria é representada pelos condritos. Levando-se a conclusão que os meteoritos ferrosos são relativamente mais raros que os rochosos em nosso sistema solar.
Classe estrutural
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Símbolo
|
Camacita [mm]
|
Níquel
[%] |
Grupo químico relacionado
|
Hexaedritos
|
H
|
> 50
|
4.5 – 6.5
|
IIAB, IIG
|
Octaedrito Muito Grosseiro
|
Ogg
|
3.3 – 50
|
6.5 – 7.2
|
IIAB, IIG
|
Octaedrito Grosseiro
|
Og
|
1.3 – 3.3
|
6.5 – 8.5
|
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
|
Octaedrito Médio
|
Om
|
0.5 – 1.3
|
7.4 – 10
|
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
|
Octaedrito Fino
|
Of
|
0.2 – 0.5
|
7.8 – 13
|
IID, IIICD, IIIF, IVA
|
Octaedrito Muito Fino
|
Off
|
< 0.2
|
7.8 – 13
|
IIC, IIICD
|
Octaedrito Plessítico
|
Opl
|
< 0.2
|
9.2 – 18
|
IIC, IIF
|
Ataxito
|
D
|
-
|
> 16
|
IIF, IVB
|