Santo Antônio do Descoberto

Fatia 15.2g

  • País: Brasil
  • Ano achado: 2011
  • Classificação: Siderito IIAB
  • Massa total: 52,15 kg
  • Queda observada: Não
R$ 561,60
Santo Antônio do Descoberto

O meteorito Santo Antônio do Descoberto é uma impressionante amostra metálica originada das profundezas de um antigo corpo planetário, e representa uma janela direta para os processos que moldaram o interior de asteroides primordiais no início do Sistema Solar. Ele foi encontrado em 28 de dezembro de 2011 por trabalhadores rurais na zona rural de Santo Antônio do Descoberto, em Goiás, Brasil, durante o nivelamento de um terreno. A peça estava enterrada a cerca de 60 cm de profundidade e sua forma singular em “gota” e seu peso considerável de 52,15 kg logo chamaram a atenção. Com dimensões aproximadas de 20 × 30 × 55 cm, sua descoberta rapidamente despertou o interesse da comunidade científica, por tratar-se de um autêntico siderito — um meteorito metálico de rara origem.

Classificado como um siderito do grupo IIAB, esse meteorito é composto quase inteiramente por liga metálica de ferro e níquel, enriquecida com elementos traço como cobalto, irídio, ouro, gálio e arsênio. Sideritos como o Santo Antônio do Descoberto são considerados os núcleos metálicos expostos de planetesimais destruídos — corpos celestes que, nos primórdios do Sistema Solar, chegaram a se diferenciar internamente, formando camadas como manto e núcleo, tal qual ocorre com planetas como a Terra. Quando esses planetesimais foram destruídos por colisões violentas, fragmentos de seus núcleos metálicos foram lançados ao espaço — e alguns acabaram colidindo com a Terra milhões ou bilhões de anos depois.

Do ponto de vista estrutural, o meteorito apresenta uma textura típica de hexaedrito, revelada em cortes polidos e atacados com ácido nítrico. Essas estruturas exibem linhas de Neumann bem definidas, uma característica relacionada a deformações por choque, geralmente causadas por colisões intensas no espaço. As regiões metálicas apresentam zonas brilhantes e foscas de kamacita, uma forma de liga de ferro-níquel, com inclusões de rhabdita (fosfeto de ferro-níquel) em formas variadas — desde precipitados pequenos e abundantes até placas idiomórficas longas, provavelmente alinhadas com os planos cristalográficos da kamacita. Esses detalhes internos são valiosíssimos para o estudo da cristalização lenta e do resfriamento do núcleo do asteroide original, permitindo reconstruir a história térmica e dinâmica desse corpo progenitor.

Além da composição metálica dominante, o meteorito contém sulfetos como troilita e daubréelita, presentes em agregados irregulares e nódulos que, em algumas áreas, mostram evidências de fusão por choque, indicando que partes do meteorito foram derretidas durante eventos impactantes. Essas feições ajudam os cientistas a compreender melhor os processos extremos que ocorrem durante a formação e destruição de corpos celestes metálicos.

Com cerca de 5,76% de níquel e concentrações rastreáveis de metais preciosos como ouro (0,594 ppm) e irídio (6,03 ppm), este meteorito representa não apenas uma maravilha natural, mas também uma peça valiosa para pesquisas geoquímicas e metalogenéticas. O grupo IIAB, ao qual pertence, está entre os mais estudados entre os sideritos, e ajuda a compor um panorama da diversidade e evolução química dos núcleos asteroides no cinturão principal.

Ter um fragmento do meteorito Santo Antônio do Descoberto é, portanto, ter nas mãos uma parte do núcleo metálico de um mundo perdido, formado há mais de 4,5 bilhões de anos, que viajou pelo espaço profundo até repousar discretamente sob o solo goiano. É uma relíquia silenciosa, mas repleta de histórias — histórias de fusões planetárias, colisões cósmicas e da origem dos planetas. Seja para coleções científicas, instituições museológicas ou entusiastas da astronomia, esse meteorito representa um testemunho direto da arquitetura profunda dos corpos celestes que moldaram o nosso Sistema Solar.

 
Siderito

Assim como os acondritos, os sideritos são provenientes de corpos parentais cuja matéria primordial sofreu diferenciação. Este material, originário da nebulosa que formou o sistema solar e presente nos meteoritos condritos, sofreu a ação gravitacional ao longo de bilhões de anos dando origem a todos os corpos que conhecemos hoje no sistema solar como o sol, planetas, asteróides, etc. Os sideritos são meteoritos provenientes do núcleo desses corpos parentais onde o material mais pesado se concentrou como o Ferro e Níquel. Apesar de haver um grande número de meteoritos ferrosos já catalogados, a grande maioria não teve a sua queda observada. Somente uma pequena parcela das quedas observadas corresponde a meteoritos sideritos, a grande maioria é representada pelos condritos. Levando-se a conclusão que os meteoritos ferrosos são relativamente mais raros que os rochosos em nosso sistema solar.

Uma vez em ambiente terrestre, os meteoritos ferrosos sofrem menos desgaste que os condritos e, desta maneira, ainda podem ser encontrados após milhares de anos de sua queda. Os condritos, por sua vez, rapidamente sofrem a ação da atmosfera e rapidamente passam a ser confundidos com rochas terrestres e sua descoberta se torna cada vez mais difícil. Desta maneira, temos registros que achados de meteoritos ferrosos de milhares de anos e vários relacionados a grandes crateras como Canyon Diablo no Arizona com cerca de 1200 metros diâmetro e 50.000 anos. Encontramos inúmeros outros exemplos de grandes achados com várias toneladas como o Campo Del Cielo na Argentina ou Gibeon na Namíbia. Devido também a sua alta resistência, os meteoritos ferrosos estão entre os maiores já conhecido, pois são mais resistentes a reentrada na atmosfera terrestre. O maior foi é o Hoba West, localizado na Namíbia com 6 toneladas. O maior meteorito encontrado no Brasil é o Bendengó com 5.3 toneladas e se encontra hoje no Museu Nacional, RJ.
Outro fator que ajuda no trabalho de busca dos meteoritos ferrosos é sua alta atratividade a imãs e ótima resposta a detectores de metais. Detectores de metais são extensamente utilizados em trabalhos de busca de meteoritos e não apresentam uma boa resposta em meteoritos rochosos.
Os meteoritos ferrosos são constituídos basicamente de uma liga ferro-níquel e uma pequena quantidade de outros elementos como germânio, gálio, ósmio e irídio que, por serem elementos pesados, se concentraram na região do núcleo do corpo parental.
Há duas metodologias de classificação para os meteoritos ferrosos, a mais antiga e tradicional é através do estudo da estrutura e proporção do metal níquel na liga ferro-níquel. Para tanto, bastava realizar o polimento de uma porção do material, realizar o tratamento com ácido nítrico e verificar que tipo de estrutura ficaria evidente. Com base nessa estrutura o meteorito recebia a sua devida classificação como Hexaedrito, Octaedrito ou Ataxito. Mais recentemente outro método baseado no estudo químico ou quantitativo de elementos como irídio e gálio em igual proporção de níquel passou a ser empregado. Desta classificação surgiram as seguintes classificações num total de 14 grupos diferentes: IAB, IC, IIAB, IIC, IID, IIE, IIF, IIG, IIIAB, IIICD, IIIE, IIIF, IVA, IVB. Além desses grupos uma pequena parcela ainda não foi agrupada recebendo esta mesma denominação.
Uma interessante relação entre esses dois tipos de classificações também foi observada e relacionada na seguinte tabela:
Classe estrutural
Símbolo
Camacita [mm]
Níquel
[%]
Grupo químico relacionado
Hexaedritos
H
> 50
4.5 – 6.5
IIAB, IIG
 Octaedrito Muito Grosseiro
Ogg
3.3 – 50
6.5 – 7.2
IIAB, IIG
Octaedrito Grosseiro
Og
1.3 – 3.3
6.5 – 8.5
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
Octaedrito Médio
Om
0.5 – 1.3
7.4 – 10
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
Octaedrito Fino
Of
0.2 – 0.5
7.8 – 13
IID, IIICD, IIIF, IVA
Octaedrito Muito Fino
Off
< 0.2
7.8 – 13
IIC, IIICD
Octaedrito Plessítico
Opl
< 0.2
9.2 – 18
IIC, IIF
Ataxito
D
-
> 16
IIF, IVB

 

Antes de descrever cada tipo estrutura, vale alguns comentários em relação à principal liga ferro-níquel, constituinte deste tipo de meteorito. Os dois principais tipos desta liga encontrados em meteoritos ferrosos são a kamacita e tenita. A formação de uma determinada liga de ferro-níquel no núcleo do corpo parental vai depender da proporção de níquel presente na liga ferro-níquel, da temperatura e velocidade de resfriamento. Se a proporção de níquel na liga ferro-níquel for baixa, entre 4.5 e 6.5 %, a liga resultante será a kamacita. Se a proporção de níquel for alta como 30% ou mais em relação ao ferro, teremos somente a formação da tenita. Como a proporção de níquel num meteorito ferroso está situada entre 6 a 13%, encontramos as ligas formadas somente de kamacita, somente de tenita e uma mistura das duas ligas.
Octaedritos (O): Tipo mais comum de siderito exibindo a famosa figura de Widmanstätten quando polido e tratado com ácido nítrico. É composto por uma mistura de kamacita e tenita interligados. A interligação espacial entre a kamacita e tenita se dá na forma de um octaedro, dando o nome de octaedrito a esse grupo. O espaço entre as placas de kamacita e tenita são preenchidos por uma fina mistura granular de kamacita e tenita chamada Plessita (preenchimento em Grego). Os Octaedritos são novamente classificados de acordo com a espessura da camada de kamacita na figura de Widmanstätten.
Hexaedritos (H): Tipo formado essencialmente por kamacita. O nome hexaedrito se fere a rede cristalina onde esta liga é formada. A rede cristalina tem formato cúbico com seis lados iguais e com ângulos retos entre os mesmo formando um hexaedro. Os hexaedritos não exibem o padrão de Widmanstätten como a maioria dos outros sideritos e sim pequenas linhas finas denominadas “Linhas de Neumman”, em homenagem ao seu descobridor Franz Ernst Neumann e identificou essas linhas em 1848. Estas “Linhas de Neumman” são indicativas da deformação por choque no corpo parental. O grupo químico relacionado ao hexaedrito é o IIAB.
Ataxitos (D): Raro tipo de siderito que não apresenta nenhuma estrutura óbvia quando tratados com ácido nítrico. O termo ataxito vem do Grego “sem estrutura”. É formado essencialmente com a liga rica em níquel tenita. É o tipo de siderito mais raro e nenhuma das quedas observadas até hoje de sideritos é do tipo Ataxito.