O meteorito Santo Antônio do Descoberto é uma impressionante amostra metálica originada das profundezas de um antigo corpo planetário, e representa uma janela direta para os processos que moldaram o interior de asteroides primordiais no início do Sistema Solar. Ele foi encontrado em 28 de dezembro de 2011 por trabalhadores rurais na zona rural de Santo Antônio do Descoberto, em Goiás, Brasil, durante o nivelamento de um terreno. A peça estava enterrada a cerca de 60 cm de profundidade e sua forma singular em “gota” e seu peso considerável de 52,15 kg logo chamaram a atenção. Com dimensões aproximadas de 20 × 30 × 55 cm, sua descoberta rapidamente despertou o interesse da comunidade científica, por tratar-se de um autêntico siderito — um meteorito metálico de rara origem.
Classificado como um siderito do grupo IIAB, esse meteorito é composto quase inteiramente por liga metálica de ferro e níquel, enriquecida com elementos traço como cobalto, irídio, ouro, gálio e arsênio. Sideritos como o Santo Antônio do Descoberto são considerados os núcleos metálicos expostos de planetesimais destruídos — corpos celestes que, nos primórdios do Sistema Solar, chegaram a se diferenciar internamente, formando camadas como manto e núcleo, tal qual ocorre com planetas como a Terra. Quando esses planetesimais foram destruídos por colisões violentas, fragmentos de seus núcleos metálicos foram lançados ao espaço — e alguns acabaram colidindo com a Terra milhões ou bilhões de anos depois.
Do ponto de vista estrutural, o meteorito apresenta uma textura típica de hexaedrito, revelada em cortes polidos e atacados com ácido nítrico. Essas estruturas exibem linhas de Neumann bem definidas, uma característica relacionada a deformações por choque, geralmente causadas por colisões intensas no espaço. As regiões metálicas apresentam zonas brilhantes e foscas de kamacita, uma forma de liga de ferro-níquel, com inclusões de rhabdita (fosfeto de ferro-níquel) em formas variadas — desde precipitados pequenos e abundantes até placas idiomórficas longas, provavelmente alinhadas com os planos cristalográficos da kamacita. Esses detalhes internos são valiosíssimos para o estudo da cristalização lenta e do resfriamento do núcleo do asteroide original, permitindo reconstruir a história térmica e dinâmica desse corpo progenitor.
Além da composição metálica dominante, o meteorito contém sulfetos como troilita e daubréelita, presentes em agregados irregulares e nódulos que, em algumas áreas, mostram evidências de fusão por choque, indicando que partes do meteorito foram derretidas durante eventos impactantes. Essas feições ajudam os cientistas a compreender melhor os processos extremos que ocorrem durante a formação e destruição de corpos celestes metálicos.
Com cerca de 5,76% de níquel e concentrações rastreáveis de metais preciosos como ouro (0,594 ppm) e irídio (6,03 ppm), este meteorito representa não apenas uma maravilha natural, mas também uma peça valiosa para pesquisas geoquímicas e metalogenéticas. O grupo IIAB, ao qual pertence, está entre os mais estudados entre os sideritos, e ajuda a compor um panorama da diversidade e evolução química dos núcleos asteroides no cinturão principal.
Ter um fragmento do meteorito Santo Antônio do Descoberto é, portanto, ter nas mãos uma parte do núcleo metálico de um mundo perdido, formado há mais de 4,5 bilhões de anos, que viajou pelo espaço profundo até repousar discretamente sob o solo goiano. É uma relíquia silenciosa, mas repleta de histórias — histórias de fusões planetárias, colisões cósmicas e da origem dos planetas. Seja para coleções científicas, instituições museológicas ou entusiastas da astronomia, esse meteorito representa um testemunho direto da arquitetura profunda dos corpos celestes que moldaram o nosso Sistema Solar.