Indianópolis

Fatia 1.413g

  • País: Brasil
  • Ano achado: 1989
  • Classificação: Siderito IIAB
  • Massa total: 14,85 kg
  • Queda observada: Não
R$ 170,00
Indianópolis

Às margens do sereno Rio Araguari, no interior de Minas Gerais, um fragmento antigo do cosmos foi revelado ao acaso. Em julho de 1989, entre os cascalhos arredondados do leito fluvial, uma massa metálica de 14,85 kg foi descoberta — um bloco denso e escuro, cuja origem não combinava com nenhuma rocha da região. Seu brilho metálico discreto, somado ao seu peso anormal, indicava algo extraordinário. Mais tarde, análises revelariam que se tratava de um autêntico meteorito metálico, nomeado Indianópolis, uma relíquia sideral que permaneceu esquecida até emergir, silenciosa, das águas do cerrado mineiro.

Classificado como um siderito do grupo IIAB, o Indianópolis é um octaedrito grosseiro, com lamelas de kamacita entre 10 e 13 mm de largura, uma textura típica de meteoritos que se formaram no interior de corpos planetários diferenciados e passaram por um resfriamento extremamente lento, ao longo de milhões de anos, no núcleo metálico de um asteroide. Essas lamelas, visíveis após polimento e ataque ácido, compõem o chamado padrão de Widmanstätten, uma estrutura cristalina única, impossível de reproduzir artificialmente na Terra. Ela representa uma espécie de assinatura geológica do espaço profundo — um registro natural do tempo cósmico.

A composição geoquímica do grupo IIAB inclui altos teores de ferro e níquel, além de traços significativos de cobalto, fósforo e irídio, elementos que fornecem informações valiosas sobre os processos de segregação e cristalização em ambientes de baixa gravidade. No caso do Indianópolis, seu aspecto e estrutura lembram muito o meteorito Santa Luzia, encontrado a centenas de quilômetros dali. Embora não se descarte completamente a hipótese de que uma massa de Santa Luzia tenha sido transportada e abandonada por ação humana, as evidências até o momento sugerem que o Indianópolis é um exemplar distinto, com identidade própria — e uma história cósmica que merece ser contada.

Sideritos como o Indianópolis se formaram nos primórdios do Sistema Solar, há mais de 4,5 bilhões de anos, durante o colapso gravitacional que originou o Sol e os primeiros corpos planetários. À medida que esses planetesimais cresciam, o calor interno — gerado por elementos radioativos e impactos — levou à sua diferenciação. Os elementos mais densos, como ferro e níquel, migraram para o centro, formando núcleos metálicos. O Indianópolis é um fragmento desses núcleos, exposto após colisões catastróficas que fragmentaram esses mundos primitivos e lançaram seus restos ao espaço interplanetário. Após uma longa jornada cósmica, esse fragmento finalmente cruzou a atmosfera terrestre e repousou, talvez por milênios, até ser revelado pelo curso natural do rio.

Hoje, o meteorito Indianópolis representa mais do que uma curiosidade geológica: é um testemunho do núcleo metálico de um planeta inacabado, um pedaço tangível do interior de um mundo que poderia ter sido, mas foi destruído antes de completar sua formação. Seu padrão interno, sua textura bruta e sua história silenciosa encantam não só cientistas, mas também colecionadores e admiradores do cosmos.

Adquirir um fragmento do meteorito Indianópolis é segurar nas mãos um capítulo perdido da arquitetura planetária — uma peça forjada nos primórdios do tempo, moldada por forças cósmicas e revelada, por fim, nas margens de um rio brasileiro. É uma lembrança sólida de que a Terra ainda guarda segredos do espaço, esperando por quem saiba reconhecê-los.

Siderito

Assim como os acondritos, os sideritos são provenientes de corpos parentais cuja matéria primordial sofreu diferenciação. Este material, originário da nebulosa que formou o sistema solar e presente nos meteoritos condritos, sofreu a ação gravitacional ao longo de bilhões de anos dando origem a todos os corpos que conhecemos hoje no sistema solar como o sol, planetas, asteróides, etc. Os sideritos são meteoritos provenientes do núcleo desses corpos parentais onde o material mais pesado se concentrou como o Ferro e Níquel. Apesar de haver um grande número de meteoritos ferrosos já catalogados, a grande maioria não teve a sua queda observada. Somente uma pequena parcela das quedas observadas corresponde a meteoritos sideritos, a grande maioria é representada pelos condritos. Levando-se a conclusão que os meteoritos ferrosos são relativamente mais raros que os rochosos em nosso sistema solar.

Uma vez em ambiente terrestre, os meteoritos ferrosos sofrem menos desgaste que os condritos e, desta maneira, ainda podem ser encontrados após milhares de anos de sua queda. Os condritos, por sua vez, rapidamente sofrem a ação da atmosfera e rapidamente passam a ser confundidos com rochas terrestres e sua descoberta se torna cada vez mais difícil. Desta maneira, temos registros que achados de meteoritos ferrosos de milhares de anos e vários relacionados a grandes crateras como Canyon Diablo no Arizona com cerca de 1200 metros diâmetro e 50.000 anos. Encontramos inúmeros outros exemplos de grandes achados com várias toneladas como o Campo Del Cielo na Argentina ou Gibeon na Namíbia. Devido também a sua alta resistência, os meteoritos ferrosos estão entre os maiores já conhecido, pois são mais resistentes a reentrada na atmosfera terrestre. O maior foi é o Hoba West, localizado na Namíbia com 6 toneladas. O maior meteorito encontrado no Brasil é o Bendengó com 5.3 toneladas e se encontra hoje no Museu Nacional, RJ.
Outro fator que ajuda no trabalho de busca dos meteoritos ferrosos é sua alta atratividade a imãs e ótima resposta a detectores de metais. Detectores de metais são extensamente utilizados em trabalhos de busca de meteoritos e não apresentam uma boa resposta em meteoritos rochosos.
Os meteoritos ferrosos são constituídos basicamente de uma liga ferro-níquel e uma pequena quantidade de outros elementos como germânio, gálio, ósmio e irídio que, por serem elementos pesados, se concentraram na região do núcleo do corpo parental.
Há duas metodologias de classificação para os meteoritos ferrosos, a mais antiga e tradicional é através do estudo da estrutura e proporção do metal níquel na liga ferro-níquel. Para tanto, bastava realizar o polimento de uma porção do material, realizar o tratamento com ácido nítrico e verificar que tipo de estrutura ficaria evidente. Com base nessa estrutura o meteorito recebia a sua devida classificação como Hexaedrito, Octaedrito ou Ataxito. Mais recentemente outro método baseado no estudo químico ou quantitativo de elementos como irídio e gálio em igual proporção de níquel passou a ser empregado. Desta classificação surgiram as seguintes classificações num total de 14 grupos diferentes: IAB, IC, IIAB, IIC, IID, IIE, IIF, IIG, IIIAB, IIICD, IIIE, IIIF, IVA, IVB. Além desses grupos uma pequena parcela ainda não foi agrupada recebendo esta mesma denominação.
Uma interessante relação entre esses dois tipos de classificações também foi observada e relacionada na seguinte tabela:
Classe estrutural
Símbolo
Camacita [mm]
Níquel
[%]
Grupo químico relacionado
Hexaedritos
H
> 50
4.5 – 6.5
IIAB, IIG
 Octaedrito Muito Grosseiro
Ogg
3.3 – 50
6.5 – 7.2
IIAB, IIG
Octaedrito Grosseiro
Og
1.3 – 3.3
6.5 – 8.5
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
Octaedrito Médio
Om
0.5 – 1.3
7.4 – 10
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
Octaedrito Fino
Of
0.2 – 0.5
7.8 – 13
IID, IIICD, IIIF, IVA
Octaedrito Muito Fino
Off
< 0.2
7.8 – 13
IIC, IIICD
Octaedrito Plessítico
Opl
< 0.2
9.2 – 18
IIC, IIF
Ataxito
D
-
> 16
IIF, IVB

 

Antes de descrever cada tipo estrutura, vale alguns comentários em relação à principal liga ferro-níquel, constituinte deste tipo de meteorito. Os dois principais tipos desta liga encontrados em meteoritos ferrosos são a kamacita e tenita. A formação de uma determinada liga de ferro-níquel no núcleo do corpo parental vai depender da proporção de níquel presente na liga ferro-níquel, da temperatura e velocidade de resfriamento. Se a proporção de níquel na liga ferro-níquel for baixa, entre 4.5 e 6.5 %, a liga resultante será a kamacita. Se a proporção de níquel for alta como 30% ou mais em relação ao ferro, teremos somente a formação da tenita. Como a proporção de níquel num meteorito ferroso está situada entre 6 a 13%, encontramos as ligas formadas somente de kamacita, somente de tenita e uma mistura das duas ligas.
Octaedritos (O): Tipo mais comum de siderito exibindo a famosa figura de Widmanstätten quando polido e tratado com ácido nítrico. É composto por uma mistura de kamacita e tenita interligados. A interligação espacial entre a kamacita e tenita se dá na forma de um octaedro, dando o nome de octaedrito a esse grupo. O espaço entre as placas de kamacita e tenita são preenchidos por uma fina mistura granular de kamacita e tenita chamada Plessita (preenchimento em Grego). Os Octaedritos são novamente classificados de acordo com a espessura da camada de kamacita na figura de Widmanstätten.
Hexaedritos (H): Tipo formado essencialmente por kamacita. O nome hexaedrito se fere a rede cristalina onde esta liga é formada. A rede cristalina tem formato cúbico com seis lados iguais e com ângulos retos entre os mesmo formando um hexaedro. Os hexaedritos não exibem o padrão de Widmanstätten como a maioria dos outros sideritos e sim pequenas linhas finas denominadas “Linhas de Neumman”, em homenagem ao seu descobridor Franz Ernst Neumann e identificou essas linhas em 1848. Estas “Linhas de Neumman” são indicativas da deformação por choque no corpo parental. O grupo químico relacionado ao hexaedrito é o IIAB.
Ataxitos (D): Raro tipo de siderito que não apresenta nenhuma estrutura óbvia quando tratados com ácido nítrico. O termo ataxito vem do Grego “sem estrutura”. É formado essencialmente com a liga rica em níquel tenita. É o tipo de siderito mais raro e nenhuma das quedas observadas até hoje de sideritos é do tipo Ataxito.