
Nova Olinda
Fatia 3.34g
- País: Brasil
- Ano achado: 2014
- Classificação: Siderito IIAB
- Massa total: 26,93 kg
- Queda observada: Não
Nova Olinda
Em novembro de 2014, sob o calor seco da região semiárida do interior da Paraíba, dois irmãos — Edsom Oliveira da Silva e João Jarba Oliveira da Silva — caminhavam por uma planície de lago seco, em uma fazenda próxima ao município de Nova Olinda, munidos de um detector de metais e a esperança de encontrar ouro. Mas o que seus instrumentos detectaram sob a terra foi algo ainda mais raro e valioso: um bloco metálico de 26 kg, com forma alongada e medidas de 29 × 15 × 17 cm, parcialmente enterrado na argila ressecada do sertão. Intrigado, Edsom enviou uma amostra ao pesquisador Andre L. R. Moutinho, que, após análise, confirmou: tratava-se de um meteorito metálico, um siderito do tipo IIAB — um fragmento do núcleo de um mundo perdido.
Batizado de Nova Olinda, esse meteorito pertence a um grupo especial de sideritos que se originaram no interior de planetesimais diferenciados, corpos rochosos que, nos primeiros milhões de anos do Sistema Solar, aqueceram-se devido à radioatividade e ao calor gerado por colisões intensas. Esse aquecimento levou à diferenciação interna, um processo no qual os materiais mais densos, como ferro e níquel, afundaram para formar um núcleo metálico, enquanto os silicatos menos densos formaram o manto e a crosta. O meteorito Nova Olinda é uma amostra literal desse núcleo metálico primitivo, preservado por bilhões de anos e finalmente revelado sob os solos do Brasil.
Com o tempo, o corpo que originou Nova Olinda foi fragmentado por colisões violentas no cinturão de asteroides, ejetando pedaços que vagaram silenciosamente pelo espaço até que um deles, após milhões de anos em órbita heliocêntrica, fosse capturado pela gravidade terrestre. Seu exterior já não apresenta mais a crosta de fusão característica das quedas recentes — a rocha foi encontrada sem evidências de impacto recente, tendo sofrido intensa alteração terrestre, com oxidação penetrando até 3 cm abaixo da superfície, e seguindo as linhas de clivagem cúbica da kamacita, principal mineral metálico do meteorito.
Sob exame em lâmina polida e atacada quimicamente, o Nova Olinda revela uma estrutura interna marcada por lamelas espessas de kamacita, com largura média de 5,93 mm, característica dos octaedritos grosseiros, os mais coarsos entre os sideritos. Bandas de Neumann — estruturas microscópicas formadas por impacto cósmico — são abundantes, além de campos de plessita, muitas vezes em forma de pente, e zonas escuras de taenita em forma de cunha. A presença de cristais largos e fitas de schreibersita, um fosfeto de ferro e níquel, é notável e abundante, conferindo ao meteorito uma aparência intricada e científica rara.
As análises geoquímicas, realizadas por diversas instituições brasileiras e internacionais, confirmam a identidade do meteorito como pertencente ao grupo químico IIAB. Sua composição, com níquel (62,18 mg/g), cobalto (5,33 mg/g) e elementos traço como irídio, platina, gálio, germânio, arsênio, ouro e paládio, difere significativamente de outros sideritos brasileiros já conhecidos, destacando o Nova Olinda como único em sua classe no país. Essa composição, junto à sua estrutura interna, comprova sua origem sideral e o consolida como um exemplar científico de alto valor.
Hoje, a maior parte da massa do Nova Olinda permanece com seus descobridores. Amostras científicas estão depositadas em instituições como a Unicamp (49 g), a USP (66 g), a Universidade de Alberta, no Canadá (33,6 g), e uma fração de 2 kg sob curadoria de Andre L. R. Moutinho. Cada pedaço desse meteorito é um fragmento do interior metálico de um pequeno mundo que nunca chegou a ser planeta, uma relíquia mineral que guarda em si os ecos das forjas estelares que moldaram o Sistema Solar.
Ter em mãos um fragmento do meteorito Nova Olinda é tocar o coração cristalizado de um planeta primordial, onde o ferro e o níquel fluíam em estado líquido, sob pressões e temperaturas impensáveis, bilhões de anos atrás. Uma rocha nascida no silêncio profundo do espaço, que viajou até o sertão nordestino para contar, com sua densidade e brilho metálico, uma história que antecede a própria Terra.

Siderito
Assim como os acondritos, os sideritos são provenientes de corpos parentais cuja matéria primordial sofreu diferenciação. Este material, originário da nebulosa que formou o sistema solar e presente nos meteoritos condritos, sofreu a ação gravitacional ao longo de bilhões de anos dando origem a todos os corpos que conhecemos hoje no sistema solar como o sol, planetas, asteróides, etc. Os sideritos são meteoritos provenientes do núcleo desses corpos parentais onde o material mais pesado se concentrou como o Ferro e Níquel. Apesar de haver um grande número de meteoritos ferrosos já catalogados, a grande maioria não teve a sua queda observada. Somente uma pequena parcela das quedas observadas corresponde a meteoritos sideritos, a grande maioria é representada pelos condritos. Levando-se a conclusão que os meteoritos ferrosos são relativamente mais raros que os rochosos em nosso sistema solar.
Classe estrutural
|
Símbolo
|
Camacita [mm]
|
Níquel
[%] |
Grupo químico relacionado
|
Hexaedritos
|
H
|
> 50
|
4.5 – 6.5
|
IIAB, IIG
|
Octaedrito Muito Grosseiro
|
Ogg
|
3.3 – 50
|
6.5 – 7.2
|
IIAB, IIG
|
Octaedrito Grosseiro
|
Og
|
1.3 – 3.3
|
6.5 – 8.5
|
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
|
Octaedrito Médio
|
Om
|
0.5 – 1.3
|
7.4 – 10
|
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
|
Octaedrito Fino
|
Of
|
0.2 – 0.5
|
7.8 – 13
|
IID, IIICD, IIIF, IVA
|
Octaedrito Muito Fino
|
Off
|
< 0.2
|
7.8 – 13
|
IIC, IIICD
|
Octaedrito Plessítico
|
Opl
|
< 0.2
|
9.2 – 18
|
IIC, IIF
|
Ataxito
|
D
|
-
|
> 16
|
IIF, IVB
|