
Aiquile
Individual 112.300g
- País: Bolivia
- Ano queda: 2016
- Classificação: Condrito H5
- Massa total: 50 kg
- Queda observada: Sim
Aiquile
O meteorito Aiquile é um extraordinário exemplo de um condrito ordinário do tipo H5, cuja queda recente e bem documentada oferece uma rara combinação de beleza natural, valor científico e contexto histórico completo. O evento ocorreu no entardecer de 20 de novembro de 2016, quando um bólido brilhante riscou o céu da região de Aiquile, no distrito de Cochabamba, Bolívia, às 17h57 no horário local. A queda foi testemunhada por diversas comunidades da região, e os fragmentos se espalharam por um campo de dispersão de pelo menos 12 por 2 km, em direção nordeste, afetando as localidades de Tablamayu, Panamá, Chawar Mayu, Chaqo K’asa, Barbechos e Cruz Loma.
A principal fragmentação do meteoro ocorreu sobre a comunidade de Tablamayu, mas foi em Cruz Loma que ocorreu a cena mais emblemática: o morador C. Veizaga testemunhou a queda da maior pedra, estimada em 36,3 kg, a apenas 500 metros de onde se encontrava. Ele recuperou o meteorito ainda na mesma tarde. No dia seguinte, a pedra foi entregue ao museu da cidade de Aiquile pelas autoridades locais, com o apoio de pesquisadores, instituições nacionais e colaboradores internacionais, incluindo SERGEOMIN, UMSA, e representantes do Brasil, como Andre R. Moutinho e José M. Monzon, que ajudaram na coleta e classificação de outros fragmentos. Uma peça de 98 g encontrada por Moutinho foi usada nas análises laboratoriais que confirmaram a classificação do meteorito.
Fisicamente, Aiquile apresenta todos os traços característicos de uma queda recente. A peça principal de 36,3 kg possui uma impressionante crosta de fusão negra brilhante, com marcas de regmagliptos bem definidas em sua superfície, sinal da interação intensa com a atmosfera durante sua descida. Outros fragmentos, como a pedra de 2,26 kg e o pedaço de 565 g, variam em grau de preservação externa, mas compartilham a mesma origem. Internamente, a rocha mostra a típica textura condrítica: uma matriz cinza clara pontilhada por grãos metálicos brilhantes e estruturas esféricas conhecidas como côndrulos.
Esses côndrulos são a marca registrada dos condritos, os meteoritos mais antigos e primitivos do Sistema Solar. Formados há mais de 4,5 bilhões de anos, os condritos surgiram a partir da aglomeração de poeira e gotículas minerais fundidas no disco protoplanetário que circundava o Sol jovem. Esses materiais, nunca derretidos completamente após sua formação, preservam a assinatura química e mineralógica dos primeiros momentos da história do Sistema Solar. O Aiquile, especificamente, pertence ao grupo H (alto teor de ferro metálico) e é classificado como tipo petrológico 5, o que indica que passou por metamorfismo térmico moderado, suficiente para recristalizar parte de sua matriz sem apagar totalmente sua estrutura condrítica.
As análises microscópicas e geoquímicas realizadas mostram uma composição equilibrada de olivina (Fa18.3) e piroxena (Fs15.7), com côndrulos porfiríticos de olivina e piroxena radial dominando a estrutura. A presença de fases metálicas de Fe-Ni, como kamacita com baixo teor de cobalto, e sulfetos como troilita, é típica do grupo H, e aponta para um conteúdo volumétrico combinado de ferro metálico e sulfetos de cerca de 9,9%. O estágio de choque é moderado (S3), com olivina apresentando fraturas irregulares e extinção ondulatória, e algumas áreas exibindo bolsões de fusão e inclusões escuras, mas sem evidência significativa de brechamento.
O valor científico do Aiquile é imenso, especialmente por se tratar de uma queda confirmada, com localização precisa, testemunhas oculares, fragmentos bem documentados e preservação excepcional. Tais características tornam-no ideal não apenas para estudos de petrologia planetária, mas também altamente cobiçado por museus, instituições acadêmicas e colecionadores exigentes. Fragmentos do Aiquile estão atualmente distribuídos entre o Museu Municipal del Charango (Aiquile), MNRJ (Brasil), Universidad Autónoma de San Andrés (Bolívia) e coleções privadas de pesquisadores envolvidos na expedição.
Adquirir um fragmento do meteorito Aiquile é ter a rara oportunidade de possuir um pedaço praticamente intacto da história primordial do Sistema Solar — um fóssil cósmico que viajou por bilhões de anos antes de cruzar o céu da Bolívia em um espetáculo de luz, som e ciência. Uma peça que une beleza natural, importância científica e origem estelar em um só objeto.

Condrito
Representam o tipo mais comum de meteoritos e guardam em seu interior informações que ajudam os cientistas a desvendar a formação do sistema solar. O termo “condrito” é originado de “côndrulos”, que correspondem a pequenas formações em forma de grânulos envoltos em uma matriz sólida. Esses grânulos representam a matéria primordial da nuvem de gás que originou o sistema solar com todos os planetas e o sol. O material contido nesses meteoritos é praticamente idêntico ao material encontrado no sol com exceção dos materiais leves como hidrogênio e hélio. Assim, os meteoritos condritos são de fundamental importância para a ciência, pois permite abrir uma janela ao passado de 4.5 bilhões de anos e analisar as substâncias e estruturas primitivas presentes nesse estágio de evolução do sistema solar.
Classificação Petrológica dos Condritos
Ausentes 1 |
Esparsos 2 |
Abundantes Distintos 3 |
4 | Indistintos 5 |
6 | ||
Ordinários(OC) |
H |
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L |
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LL |
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Carbonaceos (C) |
CI |
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CM |
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CR |
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CO |
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CV |
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CK |
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Rumuritos (R ) |
R |
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Estantitos (E) |
EH |
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EL |
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Condritos Ordinários (OC)
Condritos Enstatitos (E)
Condritos Rumurutitos (R)
Condritos Carbonáceos (C)
Teoria de formação dos côndrulos:
A teoria mais aceita diz que os côndrulos seriam a poeira que ficava mais próxima ao Sol e que, quando ele começou a produzir calor acabou derretendo e formou pequenas gotículas que depois foram sopradas pelo vento solar e acabaram se resfriando e se misturando com o resto da poeira e com os flocos de metal (que originaram a matriz dos meteoritos). Outra teoria mais recente diz que o aquecimento também pode ter ocorrido devido a indução de correntes elétricas na poeira (que tinha alta resistência e por isso aqueciam) devido ao forte campo magnético do Sol. Mais estudos estão sendo feitos, mas é possivel que ambos os efeitos possam ter ocorrido.