Estherville
Fatia 1.700g
- País: USA
- Classificação: Siderólito Mesosiderito
- Massa total: 0,32 kg
- Queda observada: Sim
Estherville
O meteorito caiu acerca de 5km ao norte de Estherville, Iowa, dia 10 de maio de 1879. Durante o fim de tarde de sábado, muitas pessoas de Estherville e do seu entorno foram surpreendidas por uma terrível explosão no céu. A terra tremeu, portas e janelas vibraram e vidraças foram quebradas. A explosão foi seguida por sons ensurdecedores, e pelo aparecimento do que parecia ser uma bola de fogo vindo do sudoeste para o nordeste. O maior pedaço do meteorito, com 195kg, caiu formando um buraco de quase 2m na fazenda de Sever Lee 3km ao norte de Estherville. O segundo fragmento foi encontrado na fazenda de A. A. Pingrey. Pesando 68kg, foi encontrado em um buraco de mais de um metro de profundidade sobre uma colina a 3km a oeste do primeiro fragmento. Os Irmãos Pietz estavam caçando em fevereiro de 1890 e encontraram o terceiro maior fragmento que pesava 42kg. Ele havia caido em um pântano seco 6km a sudoeste do primeiro fragmento, e havia penetrado 1,5m no solo. Oficialmente são reconhecidos 320kg de fragmentos. Um marco indica o local da queda do maior fragmento.
Siderólito
Os siderólitos, também conhecidos como meteoritos ferro-rochosos, representam uma fascinante e raríssima classe de meteoritos que ocupam uma posição intermediária entre os sideritos, compostos exclusivamente por ferro-níquel metálico, e os acondritos, formados por silicatos cristalinos. Sua origem remonta aos primórdios do Sistema Solar, quando a nebulosa solar — uma vasta nuvem de gás e poeira — começou a colapsar sob sua própria gravidade, formando o Sol, os planetas e inúmeros pequenos corpos planetesimais. Com o tempo, esses corpos primitivos foram aquecidos por impactos e decaimento radioativo, o que levou à diferenciação interna: os elementos mais pesados migraram para o centro formando o núcleo metálico, enquanto os materiais mais leves deram origem à crosta e ao manto.
É precisamente no manto desses corpos planetários diferenciados que os siderólitos se originam. Combinando ligas metálicas de ferro e níquel com minerais silicáticos como olivina, piroxênios e feldspato, os siderólitos oferecem uma rara janela para a zona de transição entre o núcleo e a crosta dos planetesimais. Enquanto os acondritos representam a crosta rochosa externa e os sideritos o núcleo metálico interno, os siderólitos capturam a complexa interação entre essas regiões, preservando evidências de processos geológicos profundos e violentos, como colisões catastróficas que causaram a mistura de metal derretido com rochas fragmentadas do manto.
Embora sejam meteoritos de imenso valor científico, os siderólitos são extremamente raros. Em um universo de dezenas de milhares de meteoritos catalogados, eles representam uma fração mínima, com pouco mais de 200 exemplares confirmados até hoje. Apesar da baixa frequência, dois grupos principais se destacam com um número mais significativo de espécimes: os palasitos e os mesossideritos.
Os palasitos são talvez os mais espetaculares visualmente entre todos os tipos de meteoritos. Compostos por cristais translúcidos de olivina (peridoto) embutidos em uma matriz metálica de ferro-níquel, eles exibem um aspecto único quando cortados e polidos — lembrando vitrais cósmicos. Essa beleza excepcional, somada à sua raridade, faz dos palasitos objetos de desejo entre colecionadores e cientistas. Acredita-se que eles tenham se formado na zona de contato entre o núcleo metálico e o manto rochoso de um asteroide diferenciado, durante eventos catastróficos que misturaram ferro fundido com cristais de silicato em ambientes de altíssima temperatura e pressão. O equilíbrio entre metal e cristal nos palasitos é tão refinado que muitos exemplares são verdadeiras obras de arte natural.
Já os mesossideritos são brechas metálicas complexas, compostas por fragmentos de rochas silicáticas (geralmente diogenitas e noritos) misturados a ferro-níquel metálico em uma proporção mais variada. Ao contrário dos palasitos, que apresentam cristais bem distribuídos, os mesossideritos parecem fragmentados e heterogêneos, lembrando colagens cósmicas. Essa estrutura brechada sugere que foram formados por impactos violentos entre corpos diferenciados no cinturão de asteroides, o que levou à fusão e mistura de material da crosta com o metal do núcleo de outro corpo. Eles contêm minerais como plagioclásio, piroxênios e olivina, além do metal, e são extremamente valiosos para o estudo das colisões e reacondicionamentos na história do Sistema Solar primitivo.
Existe ainda uma terceira categoria menos representativa e ainda em discussão dentro da comunidade científica, chamada de siderólitos anômalos, que não se encaixam perfeitamente nas duas classificações principais, mas apresentam também a combinação de metal e silicatos. Esses raros exemplares ajudam a expandir o entendimento sobre os processos de mistura no espaço, muitas vezes desafiando os modelos tradicionais de formação.
No fim, os siderólitos — com sua rara combinação de metal e rocha, sua origem nas profundezas dos corpos parentais e sua beleza intrigante — representam muito mais do que simples curiosidades cósmicas. São testemunhas tangíveis da violenta e criativa história do Sistema Solar, contendo registros preciosos de como os planetas começaram a se formar, se fundir, se fragmentar e, finalmente, a adquirir as formas que conhecemos hoje. Seu estudo não apenas nos conecta com esses tempos antigos, mas também nos ajuda a compreender os próprios processos que moldaram a Terra.
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