Filipinito

Individual 32.900g

  • País: Filipinas
  • Classificação: Tectito Filipinito
  • Queda observada: Não
R$ 115,15
Filipinito

Os Filipinitos, também conhecidos como Rizalitos, são verdadeiras joias do espaço e da Terra, originadas de um dos eventos cósmicos mais impressionantes da história recente do planeta. Formados há aproximadamente 786.000 anos, esses corpos vítreos naturais surgiram a partir da ejeção de material terrestre durante o maior evento de impacto já documentado em área de dispersão: o evento de impacto australasiano, cuja cratera de origem permanece um dos grandes mistérios da geologia moderna.

Entre os diversos tipos de tektitos australasianos — como os Indochinitos e Australitos —, os Filipinitos se destacam por suas formas únicas e texturas inconfundíveis. A característica mais marcante dos Filipinitos é a presença das chamadas "U-grooves" (ranhuras em forma de U), uma rede de fissuras que os diferencia imediatamente de qualquer outro tipo de tektito conhecido. Essas ranhuras surgiram originalmente como microfissuras finas como papel, mas foram ampliadas ao longo de milhares de anos pela ação de águas subterrâneas ácidas, em um processo químico natural que torna cada peça ainda mais singular.

As formas dos Filipinitos variam de maneira impressionante, revelando a complexidade dos processos físicos envolvidos em sua formação. Desde fragmentos esféricos perfeitos até peças alongadas e esculpidas por forças centrífugas, os formatos dizem muito sobre sua trajetória no espaço e sua reentrada na atmosfera. Quando ejetadas em alta velocidade, algumas gotículas de vidro foram moldadas ainda no espaço, formando esferas quase perfeitas com mínima interação atmosférica. Outras, ao atravessarem camadas de ar mais densas, adquiriram formas aerodinâmicas ou se deformaram levemente, criando estruturas em forma de lágrima (teardrop), halteres (dumbbells) ou biscoitos achatados (biscuits).

Um dos formatos mais cobiçados por colecionadores é o raro e impressionante Filipinito "Breadcrust", caracterizado por uma superfície recoberta por uma densa rede de ranhuras, semelhante à crosta de um pão. Essas peças, geralmente com mais de 200 gramas, esfriaram mais rapidamente após a ejeção, solidificando antes da reentrada e preservando as rachaduras superficiais. Por sua beleza, escassez e textura marcante, os breadcrusts estão entre os Filipinitos mais valiosos do mundo.

Outros formatos também chamam a atenção: os "hamburgers", formados por duas semi-esferas fundidas e normalmente associados a massas maiores, são extremamente raros e desejados. Já os formatos menores e redondos, os "biscuits", são os mais comuns e facilmente reconhecíveis. Os formatos irregulares também aparecem, cada um testemunhando trajetórias únicas, velocidades distintas e diferentes graus de resfriamento e orientação durante o voo atmosférico.

A posição geográfica das Filipinas teve papel fundamental na formação desses corpos. Por estarem localizadas em um ponto privilegiado em relação ao eixo do impacto, os materiais ejetados alcançaram velocidades e ângulos ideais para escapar rapidamente ao espaço, solidificando em altitudes elevadas antes de retornar à Terra. Durante a reentrada, viajando a velocidades superiores a 4 km/s, muitos Filipinitos foram reaquecidos a temperaturas extremas — calor suficiente para amolecer suas superfícies, mas não o bastante para fundi-las novamente — o que resultou em texturas superficiais únicas e estruturas internas surpreendentemente bem preservadas.

Mais do que simples fragmentos de vidro, os Filipinitos representam um encontro espetacular entre a energia de um impacto cósmico, a química da Terra e os caprichos da atmosfera planetária. Eles são altamente valorizados por colecionadores, cientistas, joalheiros alternativos e entusiastas de minerais por sua raridade, formas expressivas e beleza natural.

Adquirir um Filipinito é como segurar um pedaço do passado mais violento da Terra — uma gota sólida de tempo, moldada por forças cósmicas, cristalizada em silêncio, e preservada até os dias de hoje. Seja em sua forma esférica perfeita ou como um espetacular "breadcrust", cada Filipinito é uma obra de arte natural, uma fusão entre geologia, física e história planetária.

Tectito

Tectitos são vidros naturais formados por processos de altíssima energia, resultado direto do impacto de grandes meteoroides contra a superfície da Terra. Quando um corpo extraterrestre colide com o solo em alta velocidade – frequentemente superior a 11 km/s –, a energia liberada é suficiente para fundir instantaneamente as rochas da crosta terrestre no ponto de impacto. Essa rocha derretida é então ejetada a grandes altitudes e velocidades, podendo viajar por centenas a até milhares de quilômetros. Durante esse voo balístico, o material se resfria muito rapidamente, solidificando-se ainda em movimento, formando assim os tectitos. Ao contrário dos meteoritos, que são compostos por material extraterrestre, os tectitos são 100% formados a partir de material terrestre fundido — uma distinção importante, mas frequentemente mal compreendida até por estudiosos iniciantes.

Quimicamente, os tectitos são compostos majoritariamente por sílica (SiO2), com teores geralmente entre 65% e 80%, o que os coloca na categoria de vidros naturais semelhantes à obsidiana, porém com características únicas. Possuem baixíssimo teor de água (geralmente menos de 100 ppm), o que indica que foram expostos a temperaturas altíssimas e tiveram pouco tempo de interação com a atmosfera durante sua formação. Além disso, podem conter traços de óxidos metálicos como Fe2O3, Al2O3, MgO e TiO2, com proporções variando conforme a composição original da rocha-alvo.

Os tectitos apresentam uma variedade fascinante de formas, determinadas por fatores como viscosidade da massa fundida, velocidade e ângulo de ejeção, tempo de voo e resistência do ar. Os principais formatos são:

  • Botrioide (ou gota arredondada): formato esférico ou semi-esférico, semelhante a gotas de vidro derretido. Formado pela solidificação de massas fundidas durante o voo, sem deformações significativas. Comum em indochinitos.

  • Disco: tectito achatado, em forma de lente ou disco plano. Origina-se da compressão em voo ou ao atingir o solo ainda parcialmente fundido. Pode apresentar bordas finas e centros espessos.

  • Ovóide: formato alongado, com extremidades suavemente afiladas, lembrando um ovo ou projétil. Formado por modelagem aerodinâmica durante o voo, indicando trajetória e estabilidade balística.

  • Bastonete (ou bastão): forma cilíndrica ou levemente curvada, com comprimento maior que a largura. Resulta do alongamento de material viscoso durante a ejeção e resfriamento em voo.

  • Lágrima (tear-shaped): corpo largo com ponta afinada, típico de resfriamento assimétrico em voo. Um dos formatos mais clássicos, indicando fusão total e alongamento aerodinâmico.

  • Irregular ou fragmentado: formas sem simetria definida, com fraturas ou bordas angulosas. Podem ser resultado de quebra mecânica pós-impacto ou de resfriamento caótico, e são comuns em depósitos secundários.

  • Ranhurado (U-grooved): apresenta sulcos ou ranhuras profundas em forma de "U" na superfície. Característico dos rizalitos filipinos, formados por resfriamento turbulento e estresse superficial durante o voo.

  • Splashform: categoria genérica para formas aerodinâmicas criadas pela ejeção e solidificação do material fundido. Inclui diversos formatos (lágrima, disco, bastonete), moldados pela interação com a atmosfera.

Essas formas não são apenas curiosidades visuais: elas revelam detalhes da dinâmica do impacto e da física dos materiais em condições extremas. O estudo morfológico dos tectitos tem sido fundamental para compreender a natureza dos impactos e as propriedades dos materiais geológicos sob condições extremas de temperatura e pressão.

Os tectitos estão agrupados em quatro grandes campos de dispersão conhecidos, cada um relacionado (ou potencialmente relacionado) a um evento de impacto catastrófico:

1) Campo Europeu – Associado à cratera Nördlinger Ries, na Alemanha, formada há cerca de 15 milhões de anos. Os tectitos dessa região, conhecidos como moldavitos, são encontrados sobretudo na República Checa. São translúcidos, de cor verde esmeralda, com aparência vítrea e superfícies ricamente esculpidas por corrosão natural. Pela sua estética e transparência excepcionais, os moldavitos são os tectitos mais valorizados no mercado internacional e amplamente usados em joalheria. Seu conteúdo químico é um dos mais homogêneos entre os tectitos, o que os torna também objeto de estudos geoquímicos.

2) Campo Australasiático – O maior campo de espalhamento do planeta, com uma extensão que abrange mais de 10 mil km, desde a China e Sudeste Asiático até a Austrália. A cratera de origem ainda não foi confirmada, mas há forte suspeita de que seja a cratera subglacial de Wilkes Land, na Antártida Oriental. Os principais tipos incluem:
 • Australitos (Austrália) – De coloração preta intensa, muitos apresentam formatos aerodinâmicos perfeitos, indicando fusão e resfriamento em voo. São altamente valorizados por sua estética e simetria.
 • Indochinitos (Sudeste Asiático) – Abundantes e densos, coletados principalmente no Vietnã, Laos e Camboja. Seu aspecto é geralmente irregular e escuro, sendo populares entre colecionadores e pesquisadores. 
 • Rizalitos ou Filipitos (Filipinas) – Peculiares por suas ranhuras em "U", formadas por instabilidades no resfriamento da massa vítrea. São exemplos notáveis de tectitos com efeitos de turbulência aerodinâmica durante o voo.
 • Chinitos (China) – Mais fragmentados e opacos, frequentemente utilizados em estudos acadêmicos devido à sua distribuição ampla e características estruturais.
 • Malasianitos (Malásia) – Menos conhecidos e raros, esses tectitos escuros têm aparência vítrea e formas irregulares. Há debate sobre sua real origem, mas acredita-se que sejam uma extensão periférica do campo australasiático, e não do campo norte-americano como já proposto erroneamente.

3) Campo Norte-Americano – Associado à cratera da Baía de Chesapeake, nos Estados Unidos, formada há cerca de 34 milhões de anos. Este campo se estende pelos estados do sul e sudeste americano. Os principais tipos são:
 • Bediasitos (Texas) – Tectitos pretos e compactos, com textura interna homogênea. São encontrados com frequência em depósitos superficiais e aluviais.
 • Georgiaitos (Geórgia) – Considerados os tectitos mais raros das Américas, são translúcidos, com coloração verde-oliva clara, e altamente procurados por colecionadores devido à sua escassez e beleza incomum.

4) Campo da Costa do Marfim – Originado do impacto que formou a cratera do Lago Bosumtwi, há cerca de 1 milhão de anos, no Gana. Apesar da cratera estar em solo ganês, os tectitos foram ejetados até a região costeira da Costa do Marfim.
 • Ivoritos – Tectitos pretos, com superfícies ásperas e formas geralmente irregulares. São extremamente raros no comércio, e boa parte dos exemplares conhecidos estão em instituições científicas. Seu estudo ajuda a compreender os efeitos de impactos mais recentes na África.

5)  Campo Sul-Americano – Um campo relativamente novo e ainda em fase de estudo, sem crateras conhecidas até o momento:
 • Geraisitos (Brasil) – Descobertos recentemente no norte de Minas Gerais, os geraisitos são tectitos pretos, densos e com textura interna homogênea. Quando iluminados por luz intensa, alguns revelam uma coloração verde escura translúcida. São os primeiros tectitos confirmados em território brasileiro, e sua descoberta representa um marco para a geologia planetária sul-americana
   • Uruguaito – Recém descoberto ainda em estudo.

6) Campo Centro-Americano
  • Belizeito  – tectitos encontrados na região de Belize e Nicarágua (não in situ). Conhecidos também como zapotectitos, são escuros, vítreos e com morfologias irregulares. 

Embora sejam objetos geológicos, os tectitos têm fascinado culturas humanas por milênios. Já foram utilizados como ferramentas líticas pré-históricas, amuletos religiosos e até em rituais xamânicos, devido à sua origem "cósmica" e aparência sobrenatural. Na era moderna, são valorizados por colecionadores, museus, cientistas planetários e também como peças para joalheria artesanal de alto valor..

Os tectitos, portanto, não são apenas belos e raros – são testemunhos sólidos de eventos catastróficos que moldaram a história do planeta. Cada peça carrega em si informações preciosas sobre a geologia da Terra, os impactos extraterrestres e os processos físicos extremos do nosso sistema solar.