Bilanga

Fatia 2.390g

  • País: Burkina Faso
  • Ano queda: 1999
  • Classificação: Acondrito Diogenito
  • Massa total: 25 kg
  • Queda observada: Sim
Bilanga

No dia da queda, os céus sobre as aldeias de Bilanga-Yanga e Gomponsago, em Burkina Faso, foram palco de um evento raro e memorável: uma chuva de meteoritos amplamente testemunhada que resultou na recuperação de mais de 25 kg de material extraterrestre, compostos por dezenas de pedras cobertas por uma crosta de fusão negra e fresca, indicando uma queda extremamente recente. A cena impressionou moradores locais que relataram o estrondo e a visão de um bólido flamejante cruzando o céu, seguido de fragmentos caindo sobre os campos e vilarejos da região.

Essas pedras não eram simples meteoritos; tratava-se de uma brecha diogenítica, um tipo raro de acondrito HED — e, mais especificamente, de um fragmento do manto de um corpo planetário diferenciado, muito provavelmente o asteroide Vesta. As análises petrogáficas realizadas por A. Bischoff (Münster) revelaram que o meteorito era composto quase inteiramente por piroxênio pobre em cálcio (com Fs19–22 e média de Fs20,5), um traço típico dos diogenitos, além de plagioclásio cálcico (An75–83) e raros grãos de piroxênio rico em cálcio, como um cristal com composição En46.4Fs6.3Wo47.4.

Esses minerais se formam nas profundezas do interior de planetesimais, onde o calor e a pressão moldaram cristais ao longo de milhões de anos. A presença de diferentes tipos de piroxênio e plagioclásio indica uma origem em camadas internas de um corpo parcialmente fundido, onde o magma lentamente se solidificou em cristais grosseiros — uma janela para o interior de um planeta em miniatura.

As medições isotópicas de oxigênio, conduzidas por Robert Clayton (Universidade de Chicago), reforçam a origem HED com valores de δ¹⁸O = +3,41‰ e δ¹⁷O = +1,35‰, típicos de materiais provenientes de Vesta. Essas assinaturas químicas funcionam como impressões digitais cósmicas, conectando diretamente esses meteoritos a um dos maiores corpos do cinturão de asteroides.

Distribuído entre diversos pesquisadores e instituições, os fragmentos de Bilanga (como passou a ser conhecido) tornaram-se rapidamente referência em estudos sobre a estrutura interna de asteroides diferenciados. Entre os principais detentores estão Casper (7,5 kg), Heinlein (4 kg), Mün (8 g – espécime tipo), NHM (25 g), TCU (20 g) e Frei (80 g), além de uma fração considerável ainda em coleções privadas e científicas.

O meteorito Bilanga não é apenas uma amostra de rocha espacial; é um fragmento sólido da história geológica do Sistema Solar, lançado à Terra por uma colisão ancestral, preservado pelo tempo e revelado ao mundo através do acaso. Seu contraste entre a crosta vitrificada negra e o interior claro, mineralizado, encanta tanto cientistas quanto colecionadores — uma peça rara que une beleza, ciência e história cósmica em um só objeto.

Acondrito

Os acondritos são meteoritos rochosos que se distinguem por não apresentarem côndrulos, aquelas pequenas esferas milimétricas de silicato características dos condritos. A ausência de côndrulos indica que essas rochas passaram por processos geológicos mais complexos, como fusão parcial, diferenciação e cristalização de magma, o que as aproxima muito das rochas ígneas encontradas na Terra. Diferente dos sideritos, que representam o material denso e metálico do núcleo de corpos planetários, os acondritos são originários das regiões externas — como o manto e a crosta — de planetesimais e asteroides que, nos primórdios do Sistema Solar, foram suficientemente grandes para passar por processos de diferenciação. Quando esses corpos se formaram a partir da nebulosa solar, o calor gerado por impactos e decaimento de elementos radioativos derreteu seus interiores, permitindo a separação dos elementos mais pesados e leves. Os materiais metálicos migraram para o centro, enquanto os silicatos deram origem a lavas e rochas ígneas nas camadas mais externas. Os acondritos são, portanto, fragmentos dessas crostas e mantos, e fornecem uma visão única da atividade geológica em corpos extraterrestres primitivos.

Dentro da grande categoria dos acondritos, existem vários subgrupos distintos, cada um associado a diferentes corpos parentais e processos geológicos. Os acondritos primitivos, como as acapulcoitas e lodranitas, são uma transição entre condritos e rochas totalmente diferenciadas. Eles preservam características químicas do material original da nebulosa, mas passaram por aquecimento suficiente para fundir parcialmente e eliminar os côndrulos. Já as brachinitas são acondritos extremamente ricos em olivina e representam um tipo de manto primitivo. As ureilitas são outro tipo peculiar, com alto teor de carbono, grafite e até diamantes microscópicos, provavelmente formados por impacto. Entre os acondritos diferenciados mais estudados estão os do grupo HED: howarditas, eucritas e diogenitas. Eles têm origem no asteroide 4 Vesta e representam diferentes profundidades da crosta e do manto desse corpo. As eucritas são basaltos de superfície, as diogenitas vêm de camadas mais profundas e as howarditas são brechas formadas por colisões que misturaram os dois tipos. Outras classes importantes são os angritos, que têm uma mineralogia única e provavelmente se formaram em planetesimais distintos, e os aubritos, ricos em enstatita e com aparência muito clara, derivados de asteroides extremamente reduzidos.

Também fazem parte dos acondritos os meteoritos lunares e marcianos. Os meteoritos lunares são fragmentos arrancados da crosta da Lua por grandes impactos e que viajaram pelo espaço até atingir a Terra. São compostos por basalto, anortosito e outros tipos de rochas semelhantes às amostras trazidas pelas missões Apollo, e ajudam a ampliar nosso conhecimento sobre regiões não visitadas da Lua. Os meteoritos marcianos, por sua vez, são extremamente raros e valiosos. Eles compartilham com as análises feitas por sondas em Marte a mesma composição isotópica de gases aprisionados, especialmente o argônio, e nos fornecem informações preciosas sobre o vulcanismo, a presença de água e as condições atmosféricas do planeta vermelho em diferentes épocas. Essas amostras nos contam que Marte foi geologicamente ativo por bilhões de anos. Entre os marcianos há três grupos principais: as shergottitas, basaltos ricos em piroxeno; as nakhlitas, formadas por clinopiroxeno e com evidência de interação com água; e as chassignitas, compostas predominantemente por olivina.

Os acondritos, apesar de não representarem a maior parte dos meteoritos encontrados, são verdadeiros arquivos geológicos que documentam a história dos processos ígneos no Sistema Solar. Por sua semelhança com as rochas terrestres, eles também funcionam como pontes para compreendermos como nosso próprio planeta evoluiu desde seus primeiros estágios. Cada acondrito é uma peça-chave em um quebra-cabeça cósmico que revela como pequenos corpos primordiais deram origem a mundos inteiros — e como esses mundos foram moldados por calor, tempo e colisões. Para cientistas e colecionadores, são relíquias de um passado distante e silencioso, guardando em seus minerais as pistas da origem e evolução dos planetas.