
Campos Sales
Lâmina delgada 1g
- País: Brasil
- Ano queda: 1991
- Classificação: Condrito L5
- Massa total: 23,68 kg
- Queda observada: Sim
Campos Sales
Na noite de 31 de janeiro de 1991, por volta das 22 horas, o céu entre as cidades de Araripe e Campos Sales, no sertão do Ceará, foi riscado por um clarão inesperado. A luz intensa cortou a escuridão nordestina e foi vista em diversas cidades da região do Cariri e até em partes do Pernambuco. Em algumas localidades, o fenômeno foi seguido por uma grande explosão, despertando curiosidade, espanto e especulações. O evento parecia misterioso — até que, no dia seguinte, surgiram as primeiras pistas concretas do que havia ocorrido: pedras tinham caído do céu.
O primeiro a agir foi o Sr. Ademar Antônio da Silva, que, ao conversar com vizinhos, soube que fragmentos rochosos haviam atingido o quintal de José Gerson, seu vizinho. Imediatamente foi ao local e encontrou uma pedra com cerca de 3,5 kg, escura, pesada e incomum. Levou o achado até a rádio local de Campos Sales, onde a notícia rapidamente se espalhou. Logo, uma equipe da Universidade Federal do Ceará foi mobilizada até o local para investigar o fenômeno e recuperar outros possíveis fragmentos.
O que caiu naquela noite silenciosa do sertão foi um meteorito condrito ordinário do tipo L5 (S1) — classificado como um olivina-hiperstênio condrito, rico em minerais primordiais e com baixa concentração de ferro metálico. O meteorito Campos Sales preserva as estruturas fundamentais da matéria sólida que começou a se formar no disco protoplanetário que cercava o Sol há mais de 4,56 bilhões de anos, tornando-se uma verdadeira cápsula mineral do passado cósmico.
Mineralogicamente, o meteorito é composto principalmente por olivina (Fa2) e piroxênios pobres em cálcio, com predominância de hiperstênio (Fa21.6) — minerais típicos das regiões mais primitivas e frias do Sistema Solar. Também estão presentes ligas metálicas de ferro-níquel, como kamacita, tetrataenita e antitaenita, além de pequenas quantidades de diopsídio e plagioclásio. Essa composição indica que o material passou por certo grau de aquecimento e recristalização térmica, mas sem perder sua identidade original — por isso é classificado como tipo petrológico 5, e com baixo grau de choque (S1), o que significa que sofreu apenas impactos suaves ao longo de sua história.
Mais impressionante ainda são os dados sobre sua exposição aos raios cósmicos. Análises com gases nobres cosmogênicos — como hélio-3, neônio-21, argônio-38, criptônio-83 e xenônio-126 — revelaram que o Campos Sales viajou pelo espaço como corpo independente por cerca de 23 ± 1 milhões de anos, antes de ser capturado pela Terra. As proporções de Kr-81/Kr-83 sugerem que nenhum gás foi perdido nesse período, o que reforça a integridade científica do material.
Os condritos ordinários como o Campos Sales são peças fundamentais para compreendermos a química original do Sistema Solar. Eles não passaram por diferenciação planetária e, por isso, preservam em seus minerais e texturas informações valiosas sobre as primeiras reações físico-químicas que levaram à formação dos planetas, luas e asteroides. Nesse sentido, são mais antigos do que a Terra — fragmentos sólidos de uma época em que os planetas ainda estavam por nascer.
Hoje, o meteorito Campos Sales representa não apenas um marco da meteoritologia brasileira, mas também um elo direto entre o sertão cearense e o espaço profundo. Uma pedra silenciosa, nascida entre estrelas e forjada no caos primitivo do cosmos, que cruzou a atmosfera em uma noite quente de janeiro e veio repousar em um quintal nordestino. Sua jornada milenar agora faz parte da história científica e cultural do Brasil — um lembrete de que as histórias mais antigas do Universo às vezes caem bem perto dos nossos pés.

Condrito
Representam o tipo mais comum de meteoritos e guardam em seu interior informações que ajudam os cientistas a desvendar a formação do sistema solar. O termo “condrito” é originado de “côndrulos”, que correspondem a pequenas formações em forma de grânulos envoltos em uma matriz sólida. Esses grânulos representam a matéria primordial da nuvem de gás que originou o sistema solar com todos os planetas e o sol. O material contido nesses meteoritos é praticamente idêntico ao material encontrado no sol com exceção dos materiais leves como hidrogênio e hélio. Assim, os meteoritos condritos são de fundamental importância para a ciência, pois permite abrir uma janela ao passado de 4.5 bilhões de anos e analisar as substâncias e estruturas primitivas presentes nesse estágio de evolução do sistema solar.
Classificação Petrológica dos Condritos
Ausentes 1 |
Esparsos 2 |
Abundantes Distintos 3 |
4 | Indistintos 5 |
6 | ||
Ordinários(OC) |
H |
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L |
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LL |
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Carbonaceos (C) |
CI |
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CM |
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CR |
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CO |
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CV |
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CK |
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Rumuritos (R ) |
R |
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Estantitos (E) |
EH |
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EL |
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Condritos Ordinários (OC)
Condritos Enstatitos (E)
Condritos Rumurutitos (R)
Condritos Carbonáceos (C)
Teoria de formação dos côndrulos:
A teoria mais aceita diz que os côndrulos seriam a poeira que ficava mais próxima ao Sol e que, quando ele começou a produzir calor acabou derretendo e formou pequenas gotículas que depois foram sopradas pelo vento solar e acabaram se resfriando e se misturando com o resto da poeira e com os flocos de metal (que originaram a matriz dos meteoritos). Outra teoria mais recente diz que o aquecimento também pode ter ocorrido devido a indução de correntes elétricas na poeira (que tinha alta resistência e por isso aqueciam) devido ao forte campo magnético do Sol. Mais estudos estão sendo feitos, mas é possivel que ambos os efeitos possam ter ocorrido.