
NWA 869
Individual 4.2g
- País: Northwest Africa
- Classificação: Condrito L4-6
- Massa total: 0,002 kg
- Queda observada: Não
NWA 869
No vasto deserto próximo a Tindouf, no sudoeste da Argélia, onde as areias se estendem além do horizonte e os dias se misturam entre o silêncio e o calor, uma descoberta singular veio à tona no início dos anos 2000. Ali, entre dunas antigas e formações rochosas milenares, foi identificado um dos mais impressionantes meteoritos do norte da África: o NWA 869, um verdadeiro tesouro cósmico de múltiplas faces.
Com uma massa estimada em mais de 3 toneladas — distribuídas em milhares de fragmentos —, o NWA 869 se tornou o meteorito de maior massa já recuperado na região nordeste africana. Desde sua descoberta, ganhou notoriedade não só pela abundância, mas principalmente por sua incrível diversidade visual e mineralógica. Fragmentos diferentes exibem características tão variadas que, por anos, confundiram especialistas ao redor do mundo. Não por acaso, ele já foi reclassificado inúmeras vezes e recebeu nomes como NWA 787, NWA 900 e tantos outros, cada um refletindo tentativas independentes de compreender sua complexidade.
Quando cortado e polido, o NWA 869 revela uma matriz rica em côndrulos multicoloridos, pontilhada por inclusões escuras, algumas das quais lembram material carbonáceo, aumentando ainda mais seu mistério. Muitas amostras apresentam textura brechada, com fragmentos de diferentes tipos de condrito incorporados em uma matriz comum — como se o meteorito fosse o registro condensado de múltiplas histórias de colisão e fusão, típicas da violenta infância do Sistema Solar.
Essa variabilidade resultou em divergências classificatórias entre as instituições científicas que analisaram suas amostras. A UCLA, uma das primeiras a estudá-lo, classificou inicialmente como condrito ordinário do tipo L4, depois o redefinindo como L5. Outras análises ao redor do mundo sugeriram tipos que vão de L3.9 a L6, sempre com a indicação de que se trata de um meteorito brechado — uma rocha composta por fragmentos de diferentes tipos petrológicos, unidos por impactos posteriores.
Apesar das variações, há um consenso: o NWA 869 é um condrito do grupo L, ou seja, pobre em ferro metálico, mas formado por materiais primitivos do início do Sistema Solar. Atualmente, sua classificação oficial, registrada no Boletim Meteorítico #90, é L4-6 brechado, reconhecendo a ampla gama de metamorfismo térmico presente em suas amostras e a natureza heterogênea de sua formação.
Essa rocha extraordinária é um verdadeiro compêndio de processos cósmicos. Cada fragmento conta uma parte distinta de uma longa jornada que começou há mais de 4,5 bilhões de anos, quando poeira e gás se aglutinavam no disco protoplanetário ao redor do Sol. Colisões, fusões, choques térmicos e fragmentações ao longo de eons formaram a brecha complexa que hoje é encontrada nas areias do Saara.
Ter um fragmento do NWA 869 é segurar um mosaico cósmico nas mãos, um pedaço da história universal que sobreviveu à turbulência da formação planetária e que agora repousa na Terra, como testemunho mineral de um tempo anterior aos planetas, anterior à Terra — anterior a tudo o que conhecemos.

Condrito
Representam o tipo mais comum de meteoritos e guardam em seu interior informações que ajudam os cientistas a desvendar a formação do sistema solar. O termo “condrito” é originado de “côndrulos”, que correspondem a pequenas formações em forma de grânulos envoltos em uma matriz sólida. Esses grânulos representam a matéria primordial da nuvem de gás que originou o sistema solar com todos os planetas e o sol. O material contido nesses meteoritos é praticamente idêntico ao material encontrado no sol com exceção dos materiais leves como hidrogênio e hélio. Assim, os meteoritos condritos são de fundamental importância para a ciência, pois permite abrir uma janela ao passado de 4.5 bilhões de anos e analisar as substâncias e estruturas primitivas presentes nesse estágio de evolução do sistema solar.
Classificação Petrológica dos Condritos
Ausentes 1 |
Esparsos 2 |
Abundantes Distintos 3 |
4 | Indistintos 5 |
6 | ||
Ordinários(OC) |
H |
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L |
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LL |
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Carbonaceos (C) |
CI |
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CM |
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CR |
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CO |
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CV |
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CK |
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Rumuritos (R ) |
R |
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Estantitos (E) |
EH |
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EL |
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Condritos Ordinários (OC)
Condritos Enstatitos (E)
Condritos Rumurutitos (R)
Condritos Carbonáceos (C)
Teoria de formação dos côndrulos:
A teoria mais aceita diz que os côndrulos seriam a poeira que ficava mais próxima ao Sol e que, quando ele começou a produzir calor acabou derretendo e formou pequenas gotículas que depois foram sopradas pelo vento solar e acabaram se resfriando e se misturando com o resto da poeira e com os flocos de metal (que originaram a matriz dos meteoritos). Outra teoria mais recente diz que o aquecimento também pode ter ocorrido devido a indução de correntes elétricas na poeira (que tinha alta resistência e por isso aqueciam) devido ao forte campo magnético do Sol. Mais estudos estão sendo feitos, mas é possivel que ambos os efeitos possam ter ocorrido.