Conquista
Fatia 1.81g
- País: Brasil
- Ano queda: 1965
- Classificação: Condrito H4
- Massa total: 20,35 kg
- Queda observada: Sim
Conquista
Nas primeiras luzes do dia, às 5h40 da manhã de dezembro de 1965, enquanto o céu de Conquista, no interior de Minas Gerais, ainda despertava sob a bruma da madrugada, algo incomum rompeu o silêncio da Fazenda Mateira. O Sr. Waldemar Zago, que havia se levantado para dar uma volta, ouviu um som semelhante a um trovão e, em seguida, presenciou o que descreveu como um raio vermelho cortando o céu em direção ao mato. Instantes depois, um estrondo forte sacudiu o chão, vindo da direção do clarão, a cerca de 300 metros da sede da fazenda.
Intrigado, Waldemar relatou o ocorrido ao compadre Leônidas, que saiu em busca do ponto de impacto. Em meio ao capim retorcido, encontrou uma cratera de aproximadamente 2,2 metros de diâmetro, com a vegetação voltada para dentro, como se tivesse sido aspirada. No centro do buraco, uma única pedra, escura e densa, com cerca de 45,4 kg, repousava parcialmente enterrada. Era o meteorito Conquista, testemunha mineral de um encontro direto entre o espaço profundo e o solo brasileiro.
A peça permaneceu sob os cuidados de Leônidas até que, anos depois, o geólogo R.L.L. Murta, que trabalhava na região, tomou conhecimento da história. Um fragmento de 20,5 kg foi então doado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para estudo científico — mas, infelizmente, acabou desaparecendo do acervo. O meteorito foi posteriormente relatado e descrito por Murta (1971), Keil et al. (1978) e Gomes & Keil (1980), tornando-se um dos casos mais intrigantes de queda de meteorito no Brasil.
Trata-se de um condrito ordinário do tipo H4, também chamado de olivina-bronzita condrito, formado há mais de 4,5 bilhões de anos, nos primórdios do Sistema Solar. A rocha apresenta uma textura condrítica bem desenvolvida, com côndrulos (pequenas esferas fundidas no espaço) variando entre 0,1 mm e 1,9 mm, em formas arredondadas, elongadas ou radialmente estruturadas. As variedades observadas incluem tipos porfiríticos (PP, PO, POP), excentroradiais (RP) e granulares (GOP), todos imersos em uma matriz microcristalina semelhante a vidro parcialmente recristalizado — uma verdadeira cápsula do tempo cósmico.
Mineralogicamente, é composto principalmente por olivina (Fa17,2) e piroxênios pobres em cálcio, com presença significativa de troilita (FeS), ferro-niquel metálico, e quantidades acessórias de pigeonita, cromita e material vítreo de composição variável. Algumas partículas metálicas apresentam halos de óxidos de ferro, formados por intemperismo terrestre, o que indica o impacto da umidade e das condições ambientais locais desde a queda.
Com um ferro total de 25,83% e uma razão FeO/Ni de 9,59, os dados químicos confirmam sua identidade como condrito H4. A baixa variação composicional entre os grãos de olivina e piroxênio, combinada com a textura fortemente condrítica, define seu grau petrológico como tipo 4 — uma rocha que, embora parcialmente metamorfoseada, ainda preserva muitas das feições originais dos primeiros sólidos formados no Sistema Solar.
Curiosamente, o meteorito Conquista é descrito como sendo muito friável, o que dificultou sua preservação ao longo do tempo. Entre 1971 e 1978, durante as duas primeiras documentações fotográficas conhecidas, foi possível observar uma notável perda da crosta de fusão externa, resultado direto da fragilidade do material exposto ao ambiente.
Hoje, o Conquista permanece como um dos exemplares mais fascinantes do acervo meteórico nacional — uma rocha que cruzou os céus, rompeu a madrugada mineira com fogo e estrondo, e veio repousar no meio do mato, testemunhado por olhos atentos. Um mensageiro silencioso da nebulosa solar original, caído em um pedaço tranquilo do Brasil rural.
Condrito
Representam o tipo mais comum de meteoritos e guardam em seu interior informações que ajudam os cientistas a desvendar a formação do sistema solar. O termo “condrito” é originado de “côndrulos”, que correspondem a pequenas formações em forma de grânulos envoltos em uma matriz sólida. Esses grânulos representam a matéria primordial da nuvem de gás que originou o sistema solar com todos os planetas e o sol. O material contido nesses meteoritos é praticamente idêntico ao material encontrado no sol com exceção dos materiais leves como hidrogênio e hélio. Assim, os meteoritos condritos são de fundamental importância para a ciência, pois permite abrir uma janela ao passado de 4.5 bilhões de anos e analisar as substâncias e estruturas primitivas presentes nesse estágio de evolução do sistema solar.
Classificação Petrológica dos Condritos
| Ausentes 1 |
Esparsos 2 |
Abundantes Distintos 3 |
4 | Indistintos 5 |
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Ordinários(OC) |
H |
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L |
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LL |
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Carbonaceos (C) |
CI |
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CM |
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CR |
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CO |
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CV |
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CK |
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Rumuritos (R ) |
R |
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Estantitos (E) |
EH |
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EL |
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Condritos Ordinários (OC)
Condritos Enstatitos (E)
Condritos Rumurutitos (R)
Condritos Carbonáceos (C)
Teoria de formação dos côndrulos:
A teoria mais aceita diz que os côndrulos seriam a poeira que ficava mais próxima ao Sol e que, quando ele começou a produzir calor acabou derretendo e formou pequenas gotículas que depois foram sopradas pelo vento solar e acabaram se resfriando e se misturando com o resto da poeira e com os flocos de metal (que originaram a matriz dos meteoritos). Outra teoria mais recente diz que o aquecimento também pode ter ocorrido devido a indução de correntes elétricas na poeira (que tinha alta resistência e por isso aqueciam) devido ao forte campo magnético do Sol. Mais estudos estão sendo feitos, mas é possivel que ambos os efeitos possam ter ocorrido.