
Santa Filomena
Fragmento 0.111g
- País: Brasil
- Ano queda: 2020
- Classificação: Condrito H5-6
- Massa total: 80 kg
- Queda observada: Sim
Santa Filomena
No sertão profundo de Pernambuco, onde o calor resseca a terra e o céu azul parece eterno, algo absolutamente fora do comum cruzou os céus em 19 de agosto de 2020, às 13h18 UTC. Em plena luz do dia, uma bola de fogo ofuscante cortou os ares sobre o oeste do estado, sendo registrada por câmeras nas cidades de Floresta, Salgueiro, Belém de São Francisco e São José do Belmonte, e até mesmo pelo satélite GOES-16, que capturou o intenso clarão do bólido do espaço.
O evento não passou despercebido aos olhos atentos da BRAMON – Rede Brasileira de Observação de Meteoros – que triangulou a trajetória e calculou a órbita do visitante cósmico. O meteoróide entrou na atmosfera terrestre a impressionantes 15,36 km/s, inclinado a 43,1° em relação ao solo, e percorreu 61,3 km em apenas 4 segundos, antes de se desintegrar a cerca de 20,9 km de altitude, a leste da pequena cidade de Santa Filomena, no sertão. A órbita calculada revelou um corpo vindo de uma região distante do Sistema Solar, com um semi-eixo maior de 2,0 UA e uma excentricidade de 0,94, indicando sua origem nos confins do cinturão de asteroides.
Mas foi no chão seco e rachado da caatinga que a história tomou forma. Em uma elipse de 16 km por 2,7 km, fragmentos da rocha espacial foram lançados sobre o solo árido de Pernambuco, transformando Santa Filomena — cidade simples, acostumada ao silêncio do sertão — no epicentro de uma das quedas de meteorito mais notáveis do século XXI no Brasil. A comunidade inteira foi testemunha e protagonista. Uma massa de 38,2 kg foi encontrada nas imediações da fronteira com o Piauí. Outro fragmento, de 2,81 kg, atravessou o teto de uma casa bem em frente à igreja matriz e à praça principal, cravando-se no chão e no imaginário da população. Na Cohab, um pedaço de 1,5 kg caiu no quintal de uma casa a pouco mais de 1 km dali. Na Vila Caramari, moradores relataram a queda de outras pedras em meio ao casario.
O sertão, acostumado ao solo duro, às estiagens e à luta diária, viu chover fragmentos de estrelas. Rapidamente, moradores passaram a recolher as pedras — umas por curiosidade, outras por intuição, algumas até por medo. Pesquisadores e caçadores de meteoritos de várias partes do país e do mundo seguiram para lá. Entre os que recuperaram fragmentos estão André L. R. Moutinho, com quatro peças, a equipe da UFRJ, o colecionador americano Robert Ward, além de José C. Medeiros (Astro Agreste), Cartier Ramalho, Evandro Peixoto (CASF) e Luiz F. Castro (GASF). A queda se transformou não apenas em objeto de estudo científico, mas também em memória coletiva da cidade.
O meteorito Santa Filomena é um condrito comum, um tipo de rocha espacial que se formou nos primórdios do Sistema Solar, há mais de 4,5 bilhões de anos, antes mesmo de existirem planetas como a Terra. Sua estrutura interna, composta por pequenos grãos metálicos e côndrulos esféricos fundidos no espaço, preserva o material original da nebulosa solar — aquele disco de gás e poeira que deu origem ao nosso sistema planetário. Cada fragmento contém em si a química da criação, a assinatura mineral das primeiras reações que moldaram os mundos.
Hoje, Santa Filomena ainda é a mesma cidade sertaneja de sempre: quente, simples, resistente. Mas entre os seus quintais e paredes, entre suas árvores retorcidas e telhados de barro, repousam pedaços do universo. O céu nordestino, tão cantado em poesia, dessa vez trouxe não apenas chuva ou esperança — trouxe rochas estelares, testemunhas silenciosas de um tempo em que o Sol era apenas um bebê brilhando no vazio.
E ali, em pleno sertão, a ciência encontrou um tesouro, e o povo encontrou o céu caído no chão

Condrito
Representam o tipo mais comum de meteoritos e guardam em seu interior informações que ajudam os cientistas a desvendar a formação do sistema solar. O termo “condrito” é originado de “côndrulos”, que correspondem a pequenas formações em forma de grânulos envoltos em uma matriz sólida. Esses grânulos representam a matéria primordial da nuvem de gás que originou o sistema solar com todos os planetas e o sol. O material contido nesses meteoritos é praticamente idêntico ao material encontrado no sol com exceção dos materiais leves como hidrogênio e hélio. Assim, os meteoritos condritos são de fundamental importância para a ciência, pois permite abrir uma janela ao passado de 4.5 bilhões de anos e analisar as substâncias e estruturas primitivas presentes nesse estágio de evolução do sistema solar.
Classificação Petrológica dos Condritos
Ausentes 1 |
Esparsos 2 |
Abundantes Distintos 3 |
4 | Indistintos 5 |
6 | ||
Ordinários(OC) |
H |
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L |
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LL |
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Carbonaceos (C) |
CI |
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CM |
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CR |
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CO |
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CV |
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CK |
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Rumuritos (R ) |
R |
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Estantitos (E) |
EH |
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EL |
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Condritos Ordinários (OC)
Condritos Enstatitos (E)
Condritos Rumurutitos (R)
Condritos Carbonáceos (C)
Teoria de formação dos côndrulos:
A teoria mais aceita diz que os côndrulos seriam a poeira que ficava mais próxima ao Sol e que, quando ele começou a produzir calor acabou derretendo e formou pequenas gotículas que depois foram sopradas pelo vento solar e acabaram se resfriando e se misturando com o resto da poeira e com os flocos de metal (que originaram a matriz dos meteoritos). Outra teoria mais recente diz que o aquecimento também pode ter ocorrido devido a indução de correntes elétricas na poeira (que tinha alta resistência e por isso aqueciam) devido ao forte campo magnético do Sol. Mais estudos estão sendo feitos, mas é possivel que ambos os efeitos possam ter ocorrido.