Agoudal

Individual 4.3g

  • País: Morocco
  • Ano achado: 2000
  • Classificação: Siderito IIAB
  • Massa total: 100 kg
  • Queda observada: Não
R$ 99,00
Agoudal

No coração pedregoso das montanhas do Alto Atlas, no Marrocos, onde o vento seco percorre vales silenciosos e as pedras carregam séculos de histórias, um segredo metálico permaneceu oculto sob o solo por milênios — até começar a ser revelado no início dos anos 2000. Foi ali, na região de Agoudal, que dois pequenos fragmentos de ferro, escuros e densos, foram encontrados por moradores locais em 2000 e vendidos como curiosidades a turistas que passavam pela região. À primeira vista, nada indicava sua origem extraordinária.

Mas foi somente em setembro de 2011 que a verdadeira natureza dessas pedras começou a emergir. Um fragmento chegou às mãos de um comerciante na cidade de Errich, que, atento à sua aparência incomum, reconheceu: tratava-se de um meteorito de ferroum visitante sideral que havia viajado incontáveis quilômetros através do espaço antes de repousar discretamente no solo berbere.

A revelação despertou o interesse da comunidade científica e de caçadores de meteoritos. Nos meses seguintes, especialmente durante o fim de 2012, a região foi intensamente vasculhada por buscadores armados com detectores de metais, revelando uma verdadeira chuva de fragmentos metálicos. Muitas das peças estavam simplesmente repousando sobre a superfície arenosa, enquanto outras se encontravam enterradas a poucos centímetros de profundidade. A mais impressionante entre elas — um bloco sólido de 60 kg — foi desenterrada a cerca de 50 cm abaixo do solo, sua massa escondida sob séculos de poeira e silêncio.

Em 9 de fevereiro de 2013, os pesquisadores H. Chennaoui Aoudjehane, M. Aoudjehane e M. Aboulahris participaram da coleta de novos fragmentos, adicionando 200 gramas de espécimes às amostras já conhecidas. As coordenadas geográficas registradas naquele dia correspondem à posição da maior peça encontrada por eles — um marco ainda impreciso, já que o campo de dispersão (strewnfield) completo ainda não foi totalmente delimitado. Tudo indica que os fragmentos estão espalhados por uma área ampla, provavelmente consequência de uma explosão atmosférica em baixa altitude, característica comum em quedas de meteoritos metálicos com trajetória terminal fragmentada.

O meteorito de Agoudal pertence à classe dos sideritos, compostos quase inteiramente de ferro e níquel. São fragmentos de núcleos metálicos de planetesimais primitivos, corpos que se formaram nos primeiros milhões de anos do Sistema Solar e que passaram por diferenciação interna — processo no qual os materiais mais densos afundam para o centro e formam um núcleo metálico. Ao longo do tempo, colisões violentas entre esses corpos despedaçaram seus interiores, ejetando ao espaço fragmentos como este, que cruzaram o vácuo por bilhões de anos, até serem capturados pela gravidade terrestre.

Ao contrário de meteoritos rochosos, esses sideritos podem permanecer preservados por séculos, até mesmo milênios, nas regiões secas do globo — como o deserto marroquino. O Agoudal, com seus fragmentos de superfície polida e marcas naturais de fusão, é uma dessas relíquias. Cada peça recuperada carrega não só o peso literal do ferro cósmico, mas também o peso simbólico de um tempo antes do tempo — quando a Terra ainda nem existia, e pequenos corpos fundiam seus interiores metálicos no calor de sua formação.

Hoje, os fragmentos de Agoudal estão dispersos por coleções ao redor do mundo, desde museus até mãos de entusiastas. São pedaços do coração metálico de mundos perdidos, testemunhos silenciosos da construção planetária, encontrados nas terras vermelhas e frias do Atlas — onde o céu ainda conversa com a terra, e onde, de tempos em tempos, o espaço deixa suas assinaturas enterradas sob o silêncio das pedras.

Siderito

Assim como os acondritos, os sideritos são provenientes de corpos parentais cuja matéria primordial sofreu diferenciação. Este material, originário da nebulosa que formou o sistema solar e presente nos meteoritos condritos, sofreu a ação gravitacional ao longo de bilhões de anos dando origem a todos os corpos que conhecemos hoje no sistema solar como o sol, planetas, asteróides, etc. Os sideritos são meteoritos provenientes do núcleo desses corpos parentais onde o material mais pesado se concentrou como o Ferro e Níquel. Apesar de haver um grande número de meteoritos ferrosos já catalogados, a grande maioria não teve a sua queda observada. Somente uma pequena parcela das quedas observadas corresponde a meteoritos sideritos, a grande maioria é representada pelos condritos. Levando-se a conclusão que os meteoritos ferrosos são relativamente mais raros que os rochosos em nosso sistema solar.

Uma vez em ambiente terrestre, os meteoritos ferrosos sofrem menos desgaste que os condritos e, desta maneira, ainda podem ser encontrados após milhares de anos de sua queda. Os condritos, por sua vez, rapidamente sofrem a ação da atmosfera e rapidamente passam a ser confundidos com rochas terrestres e sua descoberta se torna cada vez mais difícil. Desta maneira, temos registros que achados de meteoritos ferrosos de milhares de anos e vários relacionados a grandes crateras como Canyon Diablo no Arizona com cerca de 1200 metros diâmetro e 50.000 anos. Encontramos inúmeros outros exemplos de grandes achados com várias toneladas como o Campo Del Cielo na Argentina ou Gibeon na Namíbia. Devido também a sua alta resistência, os meteoritos ferrosos estão entre os maiores já conhecido, pois são mais resistentes a reentrada na atmosfera terrestre. O maior foi é o Hoba West, localizado na Namíbia com 6 toneladas. O maior meteorito encontrado no Brasil é o Bendengó com 5.3 toneladas e se encontra hoje no Museu Nacional, RJ.
Outro fator que ajuda no trabalho de busca dos meteoritos ferrosos é sua alta atratividade a imãs e ótima resposta a detectores de metais. Detectores de metais são extensamente utilizados em trabalhos de busca de meteoritos e não apresentam uma boa resposta em meteoritos rochosos.
Os meteoritos ferrosos são constituídos basicamente de uma liga ferro-níquel e uma pequena quantidade de outros elementos como germânio, gálio, ósmio e irídio que, por serem elementos pesados, se concentraram na região do núcleo do corpo parental.
Há duas metodologias de classificação para os meteoritos ferrosos, a mais antiga e tradicional é através do estudo da estrutura e proporção do metal níquel na liga ferro-níquel. Para tanto, bastava realizar o polimento de uma porção do material, realizar o tratamento com ácido nítrico e verificar que tipo de estrutura ficaria evidente. Com base nessa estrutura o meteorito recebia a sua devida classificação como Hexaedrito, Octaedrito ou Ataxito. Mais recentemente outro método baseado no estudo químico ou quantitativo de elementos como irídio e gálio em igual proporção de níquel passou a ser empregado. Desta classificação surgiram as seguintes classificações num total de 14 grupos diferentes: IAB, IC, IIAB, IIC, IID, IIE, IIF, IIG, IIIAB, IIICD, IIIE, IIIF, IVA, IVB. Além desses grupos uma pequena parcela ainda não foi agrupada recebendo esta mesma denominação.
Uma interessante relação entre esses dois tipos de classificações também foi observada e relacionada na seguinte tabela:
Classe estrutural
Símbolo
Camacita [mm]
Níquel
[%]
Grupo químico relacionado
Hexaedritos
H
> 50
4.5 – 6.5
IIAB, IIG
 Octaedrito Muito Grosseiro
Ogg
3.3 – 50
6.5 – 7.2
IIAB, IIG
Octaedrito Grosseiro
Og
1.3 – 3.3
6.5 – 8.5
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
Octaedrito Médio
Om
0.5 – 1.3
7.4 – 10
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
Octaedrito Fino
Of
0.2 – 0.5
7.8 – 13
IID, IIICD, IIIF, IVA
Octaedrito Muito Fino
Off
< 0.2
7.8 – 13
IIC, IIICD
Octaedrito Plessítico
Opl
< 0.2
9.2 – 18
IIC, IIF
Ataxito
D
-
> 16
IIF, IVB

 

Antes de descrever cada tipo estrutura, vale alguns comentários em relação à principal liga ferro-níquel, constituinte deste tipo de meteorito. Os dois principais tipos desta liga encontrados em meteoritos ferrosos são a kamacita e tenita. A formação de uma determinada liga de ferro-níquel no núcleo do corpo parental vai depender da proporção de níquel presente na liga ferro-níquel, da temperatura e velocidade de resfriamento. Se a proporção de níquel na liga ferro-níquel for baixa, entre 4.5 e 6.5 %, a liga resultante será a kamacita. Se a proporção de níquel for alta como 30% ou mais em relação ao ferro, teremos somente a formação da tenita. Como a proporção de níquel num meteorito ferroso está situada entre 6 a 13%, encontramos as ligas formadas somente de kamacita, somente de tenita e uma mistura das duas ligas.
Octaedritos (O): Tipo mais comum de siderito exibindo a famosa figura de Widmanstätten quando polido e tratado com ácido nítrico. É composto por uma mistura de kamacita e tenita interligados. A interligação espacial entre a kamacita e tenita se dá na forma de um octaedro, dando o nome de octaedrito a esse grupo. O espaço entre as placas de kamacita e tenita são preenchidos por uma fina mistura granular de kamacita e tenita chamada Plessita (preenchimento em Grego). Os Octaedritos são novamente classificados de acordo com a espessura da camada de kamacita na figura de Widmanstätten.
Hexaedritos (H): Tipo formado essencialmente por kamacita. O nome hexaedrito se fere a rede cristalina onde esta liga é formada. A rede cristalina tem formato cúbico com seis lados iguais e com ângulos retos entre os mesmo formando um hexaedro. Os hexaedritos não exibem o padrão de Widmanstätten como a maioria dos outros sideritos e sim pequenas linhas finas denominadas “Linhas de Neumman”, em homenagem ao seu descobridor Franz Ernst Neumann e identificou essas linhas em 1848. Estas “Linhas de Neumman” são indicativas da deformação por choque no corpo parental. O grupo químico relacionado ao hexaedrito é o IIAB.
Ataxitos (D): Raro tipo de siderito que não apresenta nenhuma estrutura óbvia quando tratados com ácido nítrico. O termo ataxito vem do Grego “sem estrutura”. É formado essencialmente com a liga rica em níquel tenita. É o tipo de siderito mais raro e nenhuma das quedas observadas até hoje de sideritos é do tipo Ataxito.