Sikhote-Alin

Individual 4.64g

  • País: Rússia
  • Ano queda: 1947
  • Classificação: Siderito IIAB
  • Massa total: 23000 kg
  • Queda observada: Sim
R$ 169,00
Sikhote-Alin

Na manhã gélida de 12 de fevereiro de 1947, por volta das 10h30, o silêncio das montanhas de Sikhote-Alin, no extremo leste da então União Soviética, foi rasgado por um clarão tão intenso que superou o brilho do próprio Sol. Um bólido colossal descia velozmente do céu, cruzando o firmamento em um ângulo de aproximadamente 41 graus, enquanto deixava atrás de si uma trilha de fumaça de mais de 32 quilômetros de extensão. A luz foi vista a centenas de quilômetros de distância, e uma explosão ensurdecedora sacudiu o chão em um raio de mais de 300 km. Cidades inteiras, como Luchegorsk e regiões a nordeste de Vladivostok, foram testemunhas do evento. À medida que o meteoro penetrava a atmosfera a cerca de 14 km por segundo, ele começou a se fragmentar, e a cerca de 5,6 km de altitude, explodiu violentamente em uma poderosa explosão aérea, lançando uma chuva de fragmentos sobre a floresta gelada.

O impacto foi tão significativo que formou mais de 100 crateras, algumas com até 26 metros de diâmetro e 6 metros de profundidade, espalhadas por uma área de aproximadamente 1,3 km². Milhares de fragmentos metálicos foram recuperados, com massas que variavam de pequenos grãos a blocos de mais de 1 tonelada. Estima-se que o evento tenha depositado pelo menos 23 toneladas de material metálico na superfície terrestre. O artista soviético P. I. Medvedev, que por acaso estava esboçando à janela no momento da queda, foi uma das testemunhas oculares e registrou o fenômeno em uma pintura que mais tarde foi homenageada em selo oficial no décimo aniversário do evento, emitido pela União Soviética em 1957.

O meteorito Sikhote-Alin é um exemplar clássico e imponente de siderito, classificado como octaedrito muito grosseiro do grupo IIAB, com bandas de Widmanstätten de largura média de 9 ± 5 mm. Sua composição revela 93% de ferro metálico e 5,9% de níquel, com elementos traço como cobalto (0,42%), fósforo (0,46%), enxofre (0,28%), além de gálio (52 ppm), germânio (161 ppm) e irídio (0,03 ppm). Internamente, sua estrutura contém kamacita em lamelas espessas, zonas de taenita, regiões de plessita, além de schreibersita, troilita e cromita, formando uma malha metálica complexa e fascinante.

Sua origem remonta aos primórdios do Sistema Solar, há mais de 4,5 bilhões de anos, quando planetesimais — pequenos corpos rochosos e metálicos — se formavam a partir da poeira cósmica ao redor do jovem Sol. Alguns desses corpos cresceram e se aqueceram internamente, permitindo a diferenciação de suas camadas. Os materiais mais densos, como ferro e níquel, afundaram e formaram núcleos metálicos. O meteorito Sikhote-Alin é um fragmento desse núcleo ancestral, arrancado de seu corpo original por uma colisão catastrófica e lançado ao espaço. Após uma jornada solitária de milhões de anos, encontrou seu destino na Terra, caindo com força avassaladora em solo soviético.

Diferente de muitos meteoritos encontrados em circunstâncias silenciosas, Sikhote-Alin é lembrado como um dos maiores eventos de queda já testemunhados na história moderna, tanto pelo volume de material recuperado quanto pelo impacto cultural e científico. Muitos de seus fragmentos exibem regmagliptos bem definidos, marcas típicas da fusão atmosférica, enquanto outros mantêm formas retorcidas pela explosão em voo. Hoje, suas peças estão espalhadas por museus e coleções ao redor do mundo, reverenciadas por sua beleza, história e poder científico.

Ter em mãos um fragmento de Sikhote-Alin é tocar o coração metálico de um mundo antigo, forjado nos primórdios da criação planetária, moldado pelo calor de núcleos asteroides e testemunha de uma das mais espetaculares visitas celestes à Terra no século XX. É um lembrete de que o universo continua ativo, e que, de tempos em tempos, nos envia mensagens brilhantes — e pesadas — vindas do passado estelar.

 

 

Siderito

Assim como os acondritos, os sideritos são provenientes de corpos parentais cuja matéria primordial sofreu diferenciação. Este material, originário da nebulosa que formou o sistema solar e presente nos meteoritos condritos, sofreu a ação gravitacional ao longo de bilhões de anos dando origem a todos os corpos que conhecemos hoje no sistema solar como o sol, planetas, asteróides, etc. Os sideritos são meteoritos provenientes do núcleo desses corpos parentais onde o material mais pesado se concentrou como o Ferro e Níquel. Apesar de haver um grande número de meteoritos ferrosos já catalogados, a grande maioria não teve a sua queda observada. Somente uma pequena parcela das quedas observadas corresponde a meteoritos sideritos, a grande maioria é representada pelos condritos. Levando-se a conclusão que os meteoritos ferrosos são relativamente mais raros que os rochosos em nosso sistema solar.

Uma vez em ambiente terrestre, os meteoritos ferrosos sofrem menos desgaste que os condritos e, desta maneira, ainda podem ser encontrados após milhares de anos de sua queda. Os condritos, por sua vez, rapidamente sofrem a ação da atmosfera e rapidamente passam a ser confundidos com rochas terrestres e sua descoberta se torna cada vez mais difícil. Desta maneira, temos registros que achados de meteoritos ferrosos de milhares de anos e vários relacionados a grandes crateras como Canyon Diablo no Arizona com cerca de 1200 metros diâmetro e 50.000 anos. Encontramos inúmeros outros exemplos de grandes achados com várias toneladas como o Campo Del Cielo na Argentina ou Gibeon na Namíbia. Devido também a sua alta resistência, os meteoritos ferrosos estão entre os maiores já conhecido, pois são mais resistentes a reentrada na atmosfera terrestre. O maior foi é o Hoba West, localizado na Namíbia com 6 toneladas. O maior meteorito encontrado no Brasil é o Bendengó com 5.3 toneladas e se encontra hoje no Museu Nacional, RJ.
Outro fator que ajuda no trabalho de busca dos meteoritos ferrosos é sua alta atratividade a imãs e ótima resposta a detectores de metais. Detectores de metais são extensamente utilizados em trabalhos de busca de meteoritos e não apresentam uma boa resposta em meteoritos rochosos.
Os meteoritos ferrosos são constituídos basicamente de uma liga ferro-níquel e uma pequena quantidade de outros elementos como germânio, gálio, ósmio e irídio que, por serem elementos pesados, se concentraram na região do núcleo do corpo parental.
Há duas metodologias de classificação para os meteoritos ferrosos, a mais antiga e tradicional é através do estudo da estrutura e proporção do metal níquel na liga ferro-níquel. Para tanto, bastava realizar o polimento de uma porção do material, realizar o tratamento com ácido nítrico e verificar que tipo de estrutura ficaria evidente. Com base nessa estrutura o meteorito recebia a sua devida classificação como Hexaedrito, Octaedrito ou Ataxito. Mais recentemente outro método baseado no estudo químico ou quantitativo de elementos como irídio e gálio em igual proporção de níquel passou a ser empregado. Desta classificação surgiram as seguintes classificações num total de 14 grupos diferentes: IAB, IC, IIAB, IIC, IID, IIE, IIF, IIG, IIIAB, IIICD, IIIE, IIIF, IVA, IVB. Além desses grupos uma pequena parcela ainda não foi agrupada recebendo esta mesma denominação.
Uma interessante relação entre esses dois tipos de classificações também foi observada e relacionada na seguinte tabela:
Classe estrutural
Símbolo
Camacita [mm]
Níquel
[%]
Grupo químico relacionado
Hexaedritos
H
> 50
4.5 – 6.5
IIAB, IIG
 Octaedrito Muito Grosseiro
Ogg
3.3 – 50
6.5 – 7.2
IIAB, IIG
Octaedrito Grosseiro
Og
1.3 – 3.3
6.5 – 8.5
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
Octaedrito Médio
Om
0.5 – 1.3
7.4 – 10
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
Octaedrito Fino
Of
0.2 – 0.5
7.8 – 13
IID, IIICD, IIIF, IVA
Octaedrito Muito Fino
Off
< 0.2
7.8 – 13
IIC, IIICD
Octaedrito Plessítico
Opl
< 0.2
9.2 – 18
IIC, IIF
Ataxito
D
-
> 16
IIF, IVB

 

Antes de descrever cada tipo estrutura, vale alguns comentários em relação à principal liga ferro-níquel, constituinte deste tipo de meteorito. Os dois principais tipos desta liga encontrados em meteoritos ferrosos são a kamacita e tenita. A formação de uma determinada liga de ferro-níquel no núcleo do corpo parental vai depender da proporção de níquel presente na liga ferro-níquel, da temperatura e velocidade de resfriamento. Se a proporção de níquel na liga ferro-níquel for baixa, entre 4.5 e 6.5 %, a liga resultante será a kamacita. Se a proporção de níquel for alta como 30% ou mais em relação ao ferro, teremos somente a formação da tenita. Como a proporção de níquel num meteorito ferroso está situada entre 6 a 13%, encontramos as ligas formadas somente de kamacita, somente de tenita e uma mistura das duas ligas.
Octaedritos (O): Tipo mais comum de siderito exibindo a famosa figura de Widmanstätten quando polido e tratado com ácido nítrico. É composto por uma mistura de kamacita e tenita interligados. A interligação espacial entre a kamacita e tenita se dá na forma de um octaedro, dando o nome de octaedrito a esse grupo. O espaço entre as placas de kamacita e tenita são preenchidos por uma fina mistura granular de kamacita e tenita chamada Plessita (preenchimento em Grego). Os Octaedritos são novamente classificados de acordo com a espessura da camada de kamacita na figura de Widmanstätten.
Hexaedritos (H): Tipo formado essencialmente por kamacita. O nome hexaedrito se fere a rede cristalina onde esta liga é formada. A rede cristalina tem formato cúbico com seis lados iguais e com ângulos retos entre os mesmo formando um hexaedro. Os hexaedritos não exibem o padrão de Widmanstätten como a maioria dos outros sideritos e sim pequenas linhas finas denominadas “Linhas de Neumman”, em homenagem ao seu descobridor Franz Ernst Neumann e identificou essas linhas em 1848. Estas “Linhas de Neumman” são indicativas da deformação por choque no corpo parental. O grupo químico relacionado ao hexaedrito é o IIAB.
Ataxitos (D): Raro tipo de siderito que não apresenta nenhuma estrutura óbvia quando tratados com ácido nítrico. O termo ataxito vem do Grego “sem estrutura”. É formado essencialmente com a liga rica em níquel tenita. É o tipo de siderito mais raro e nenhuma das quedas observadas até hoje de sideritos é do tipo Ataxito.