14 de janeiro de 2023
Como Fotografar Chuvas de Meteoros?
O que são chuvas de meteoros?
À medida que a Terra percorre sua órbita ao redor do sol, inúmeros fragmentos deixados por cometas ocasionalmente entram em seu caminho e acabam por reentrar na atmosfera terrestre. Esses fragmentos viajam a velocidades cósmicas e uma grande quantidade de energia é liberada em forma de calor e luz provocando o fenômeno conhecido como meteoro.
Os meteoros ocasionados pelos fragmentos liberados por cometas e capturados pela Terra se distinguem dos meteoros observados esporadicamente a qualquer noite por três fatores:
1) Direção ou Radiante
Imaginemos que a terra seja uma “nave espacial” e que estamos sentados ao banco do “motorista” e olhando atentamente para o “pára-brisas”. De repente deparamos com uma “família” de fragmentos que tranquilamente atravessa a estrada “orbita” da Terra. Como não é possível frear a “nave” terra, essa “atropela” a “família” de fragmentos, caindo em cima do “pára-brisas” da “nave”. Felizmente a “nave” é dotada de um “pára-brisas” extremamente potente e nos protege de ser atingidos de cheio pelos fragmentos. O “pára-brisas” representa a atmosfera terrestre que nos protege dos impactos dos fragmentos, a direção que esses fragmentos “surgem” é sempre a mesma e no caso das chuvas de meteoros chamamos de radiante. Nessa representação imaginária o “pára-brisas” da nossa “nave” Terra é a direção do céu que “aponta” para a direção que a Terra segue o seu trajeto ao longo de sua órbita. O céu noturno é mapeado ou dividido em constelações. A constelação que marca o aparecimento do chuveiro empresta o nome para o mesmo. Assim, a chuva que tem como radiante a constelação de Leão denomina-se Leonídeos, a que tem a se originam na constelação de Órion, denomina-se Orionídeos, etc. Eventualmente algum fragmento consegue passar pela atmosfera terrestre e acaba por chegar ao solo. A partir daí esse fragmento passa a se chamar meteorito.
2) Periodicidade
Tanto a órbita terrestre quanto as órbitas dos cometas são plenamente definidas e periódicas. Ao longo do período orbital da Terra de 365 dias inúmeras órbitas conhecidas de cometas se encontram com a da Terra. Esses encontros marcam as chamadas chuvas de meteoros. Ao longo do ano, inúmeras chuvas foram observadas e tabeladas:
Nome
|
Máximo
|
Taxa
|
Constelação
|
Quadrantideas
|
03 de janeiro
|
120
|
Boeiro
|
Lirideos
|
22 de abril
|
15
|
Lira
|
Eta-Aquarantideas
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05 de maio
|
30
|
Aquário
|
Delta-Aquarantideas
|
29 de julho
|
15
|
Aquario
|
Perseidas
|
12 de agosto
|
80
|
Perseu
|
Orionídeas
|
12 de agosto
|
20
|
Orion
|
Taurideas
|
04-12 de novembro
|
10
|
Touro
|
Leonídeas
|
17 de novembro
|
100
|
Leão
|
Geminídeas
|
14 de dezembro
|
80
|
Gemeos
|
3) Intensidade
Finalmente, as chuvas de meteoros se diferenciam dos meteoros convencionais pela sua grande intensidade. Porém, entre os três fatores esse é o menos previsível. Ocasionalmente um chuveiro pode ter uma grande intensidade em um ano e no outro ser uma decepção. A previsibilidade das chuvas é parecida com a dos brilhos ou magnitudes que os cometas podem atingir. Um grande exemplo é o caso do cometa Halley que despertou tanta atenção na sua última passagem e foi bem menos expressivo.
É através desses três fatores relacionados aos chuveiros de meteoritos que faremos o planejamento das fotos. O radiante nos dará a direção que devemos enquadrar a máquina fotográfica, pois é a partir dessa direção que prováveis meteoros irão “aparecer”. Com um pequeno conhecimento da esfera celeste já é possível definir as principais constelações e as que definem os radiantes como Órion ou Leão. Pode-se lançar mão de planisférios, mapas celestes ou programas de computador tipo “planetário”. Esses programas são excelentes para o conhecimento de objetos celestes. Bastando informar ao software a localização geográfica e a data e hora locais que ele exibirá na tela do computador uma representação corrente do céu com as indicações de todas as constelações.
O segundo parâmetro, periodicidade, nos ajuda a escolher qual a melhor época do ano devemos tentar fotografar as chuvas de meteoros, bastando para isso a consulta em uma simples tabela. O último parâmetro, por sua vez, pode nos dar uma indicação de qual chuva pode ser mais intensa do que outra e escolher a que pode fornecer melhores resultados. Lembrando mais uma vez que as predições de intensidade de chuvas de meteoritos não são muito confiáveis na prática.
Equipamentos necessários
Já sabendo a direção e períodos que provavelmente a chuva de meteorito ocorrerá, resta saber quais equipamentos são necessários e como proceder.
- “setup” utilizando uma Digital reflex com cabo disparador tipo timer. Grande flexibilidade e um custo relativamente alto
- “setup” utilizando uma digital compacta. Baixo custo, porem apresenta grande limitação no tempo de exposição e pode ser difícil de obter foco
Máquina fotográfica
Inúmeras opções de máquinas podem ser utilizadas desde que apresente a seguinte característica fundamental: ser capaz de efetuar tomadas de longa exposição. Nas máquinas mais antigas de filme SLR esse modo era chamado modo B ou “Bulb”. Através desse modo e com o auxílio de um cabo disparador é possível efetuar exposições de poucos minutos a horas. Atualmente o uso do filme para astrofotografia (fotografar chuva de meteoros não deixa de ser astrofotografia) já caiu em desuso frente às enormes vantagens da era digital sobre o filme (seria necessário outro artigo para discorrer sobre esse tema). Tanto as digitais compactas com as DSLR podem ser usadas. O inconveniente das compactas é que o tempo de longa exposição é geralmente limitado em 30s. Algum resultado é possível, mas atualmente as melhores máquinas para essa finalidade são as Digitais Reflex ou DSLR. São a evolução natural das SLR podendo ter as lentes intercambiáveis e longa exposição através de cabo disparador em modo “B”.
Lente
O campo que se deseja fotografar chuvas de meteoros é amplo. As lentes mais adequadas para esse fim são as grande angulares ou até mesmo a lente “padrão” de 50mm. Cabe ressaltar a questão do crop 1,6x ao usar as DSLR. Ou seja, para ter o mesmo efeito que os 50mm nas SLR é necessária uma lente de 32mm nas DSLR. Sempre prefira lentes fixas. Essas apresentam uma qualidade ótica muito superior as lentes tipo ”zoom”. É bom também que a lente seja rápida, preferencialmente no mínimo f/3.5. Melhor seria f/2.8 ou mais luminosa. Gosto muito de utilizar lentes das máquinas analógicas antigas nas modernas DLSR. A CANON é a máquina que aceita o mais variado número de lentes de diferentes fabricantes através do uso de um adaptador. Atualmente utilizo a linha de lentes OM na CANON 350D através de um adaptador OM-EOS.
Cabo disparador
Uma vez que efetuar fotos de longa exposição é uma necessidade ao fotografar chuvas de meteoros, é imprescindível o uso de um cabo disparador. Caso opte por fotografar utilizando SLR analógicas, o cabo é mecânico e aciona o obturador através de uma haste que fica presa durante todo o tempo que se deseja efetuar a tomada. Nas câmeras DSLR o cabo disparador é eletrônico, constituído basicamente de um contato que se fecha para abrir o obturador e abre para fechar o mesmo. Esse é o tempo total de integração da foto. O cabo disparador CANON RS-60E3 disponibiliza essa função básica. A CANON ainda disponibiliza um cabo disparador com timer, permitindo programar uma seqüência de exposições com um determinado tempo da exposição.
Tripé
As chuvas de meteoritos ocorrem em um determinado radiante e uma integração longa é necessária. Assim, é necessário manter todo o setup enquadrado na direção desejada e qualquer movimento pode arruinar a foto. Desta maneira é imprescindível ter a mão um bom tripé que permita regular a atitude da câmera na direção desejada. Isso geralmente é feito através de uma cabeça giratória que vai aparafusada no tripé.
Procedimento
Uma vez tendo planejado o campo da foto, consultando mapas ou planisférios a respeito da localização do radiante, a montagem do setup é simples. Assim como a efetiva realização das fotos.
Após posicionar a câmera no tripé, ajuste o foco da câmera no infinito. Aqui é muito importante acionar o botão para desligar o auto-focus (AF) da câmera e ajustar a lente manualmente. Se o AF estiver acionado, a máquina não irá conseguir fazer o foco automático e efetuar a foto.
Em seguida efetue o enquadramento da foto. Uma boa dica é o uso de um apontador tipo “green laser”. Com o auxilio do mesmo é possível “desenhar” no céu a região enquadra e observar ao mesmo tempo pelo visor da câmera. Muitas vezes não é possível a visualização de estrelas mais fracas por esse visor como meio de orientação. Porém, o feixe do Green laser é facilmente visível sendo possível efetuar o desenho do “retângulo” que engloba o campo de interesse. Ajuste o campo e aperte os parafusos de travamento da cabeça giratória. Enquadre a foto de maneira com que o centro do campo fica a uns 20 a 30 graus do radiante. Evite fotografar regiões muito próximas ao horizonte.
Após o enquadramento ter sido feito, ajuste o anel do diafragma em abertura máxima. Somente feche 1 ou 2 pontos se a lente for muito “rápida” como f/1.4 ou f/1.8. Nessas lentes a distorção é muito pronunciada quando utilizada em modo totalmente aberta.
Finalmente o último parâmetro é o tempo de exposição a ser escolhido. Essa escolha vai sofrer duas influências: PL (Poluição Luminosa) e Movimento de rotação da terra.
Em lugares de PL severas e mesmo moderada, não será possível realizar fotos de chuvas de meteoros com boa qualidade, pois o nível de iluminação do fundo do céu irá fazer com o que o fundo de céu da foto fique avermelhado e, em alguns casos severos, toda a informação obtida na foto será “lavada” pela luz proveniente da PL.
Outro fator, de menor importância é a questão da rotação das estrelas no campo da foto. Esse efeito não é tão prejudicial quanto a PL, sendo que ate muitas vezes pode até mesmo ser desejado pelo fotógrafo como um efeito artístico. O tempo máximo de integração vai variar de local para local, sendo escolhido em função das duas variáveis expostas. Em geral, tempos de 5 a 15 minutos apresentam bons resultados.
Finalmente, resta planejar o número de exposições da seqüência. Ou seja, quantas exposições no tempo de integração escolhido serão realizadas. Aqui fica a critério do fotografo. Podendo-se fazer desde algumas poucas integrações ou até mesmo deixar o timer da câmera programado para realizar as exposições durante toda a noite. Quanto maior o numero de exposições, maior será a probabilidade de conseguir um bom resultado.
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