Como Preservar meus Meteoritos?

sábado, 14 de janeiro de 2023

O ambiente terrestre é o maior inimigo dos meteoritos. Depois de bilhões vagando pelo espaço, o meteoróide sofre um terrível teste de resistência ao reentrar na atmosfera terrestre. Apenas meteoróides de tamanhos consideráveis conseguem passar a esse teste e chegam à superfície terrestre onde passam a serem chamados de meteoritos. O evento gerado na reentrada recebe o nome de meteoro. Na verdade o meteoro não existe fisicamente e sim representa um conjunto de fenômenos visuais e sonoros causados pela reentrada do meteoróide na atmosfera terrestre. 

Uma vez presente no ambiente terrestre, a atmosfera com a sua umidade e presença de oxigênio começa a reagir sobre material constituinte do meteorito e à medida que o tempo passa a sua descoberta fica cada vez mais difícil.

Há três tipos básicos de meteoritos: ferrosos, rochosos e ferrosos-rochosos. Os efeitos da deterioração causado pela atmosfera se apresentam em maior grau ao tipo de meteoritos que apresentam uma grande parcela de ferro em sua constituição como os ferrosos (siderito) e os ferrosos-rochosos (siderólitos). 

Os meteoritos rochosos (condritos e acondritos), por apresentarem uma pequena parcela de ferro em sua constituição, são menos atacados pela atmosfera terrestre e são muito mais fáceis de serem preservados. Em amostras que não apresentam grande valore científico, como os condritos orditários, podem ficar expostos sem nenhuma proteção. Logicamente, espécimes raras como meteoritos lunares e marcianos merecem uma atenção especial na sua preservação. 

Uma vez o meteorito ferroso exposto ao ambiente terrestre, é inevitável a sua oxidação ao longo do tempo. Para espécímes que já apresentam um grau de oxidação, o seguinte procedimento pode ser utilizado para a remoção da camada de óxido ou ferrugem. Vale salientar que muitos meteoritos têm sua atratividade ou característica presentes na sua camada externa de oxidação colorida que recebe o nome de patina. Comercialmente, da-se muito mais preferência a esse tipo de material sendo que sua limpeza pode depreciar seu valor e mesmo descaracterizá-lo. Um exemplo é o caso dos Uruaçus do Brasil ou os Henbury australianos. Desta maneira, tome muito cuidado caso queria remover a camada externa de oxidação de alguma peça, pois poderá descaracterizá-la e, consequentemente, seu valor de mercado pode ficar mais baixo. Uma outra informação interessante é que determinados meteoritos sofrem muito mais a ação da oxidação. O campeão em oxidação é o meteoritno Nantan encontrado na China.

 

oxidadojpg Exemplar Uruaçu exibindo a característica patina.

 

De qualquer maneira, a camada de ferrugem, quando indesejada, pode ser removida com o emprego do ácido fosfórico. Deixa-se a peça  em uma vasilha contendo ácido suficiente para cobrir toda a peça por umas 8 horas. Não deixe partes para fora, pois essas poderão oxidar. Um substituto para o ácido fosfórico é o Ferrox. Solução comercial de cor verde empregada para a remoção da oxidação. Utilize o mesmo da mesma forma que o ácido fosfórico. Em casos mais severos onde se queira a remoção completa da camada de óxido, pode-se utilizar ácidos mais fortes como o ácido clorídrico. De qualquer maneira, não recomendo esse tipo de abordagem pois a peça vai ficar seriamente descaracterizada. Abaixo uma peça de Uruaçu que tratei com ácido cloridrico. Observe a diferença da peça com patina original. De qualquer maneira, fica evidenciada a constituição essencialmente ferrosa desse tipo de meteorito: 

strippedjpg Exemplar de Uruaçu tratado quimicamente para a remoção da camada de óxido.

 

Uma vez convertido o óxido, neutralize o ácido colocando a peça em uma vasilha com álcool isopropílico e deixe agir por algumas horas. Acetona também pode ser empregada nesse caso. O objetivo do álcool isopropílico ou da acetona, além de neutralizar o ácido, é remover qualquer indício de umidade presente na peça

Após o uso do álcool isopropílico ou acetona, verifique o estado da peça e, se desejado,  proceda a uma remoção mecânica do óxido a fim de permitir um acabamento melhor na peça. Esta remoção mecânica pode ser feita com uma escovinha de aço ou, melhor ainda, com o uso de uma microretifica. Repita o procedimento do ácido e álcool isopropílico se ainda houver sinal de oxidação. Vale salientar que em fatias que foram tratadas com ácidos para evidenciar a estrutura Widmanstaetten o processo de abrasão química e mecânica danificam esse tratamento e o mesmo deve ser refeito após o tratamento da peça.

Um outro método para a remoção da oxidação é através da eletrólise. Já experimentei esse método é achei muito interessante. Emprega-se a corrente elétrica e uma solução iõnica para a transferência da oxidação da peça para um outro metal que irá ser sacrificado. Esse método vai merecer um outro artigo a ser escrito futuralmente.

Uma vez realizada a recuperação da peça, resta realizar o correto armazenamento. Nunca exponha uma peça de meteorito ferroso diretamente ao ambiente sem uma devida proteção. Há quem utlize verniz ou mesmo cera. Eu pessoalmente nao gosto dessa abordagem e prefiro manter as peças em recipientes devidamente herméticos e livres de umidade. Pode-se empregar saquinhos com feixos e saches de sílica gel. De qualquer maneira, recomendo passar uma fina camada de óleo fino como WD antes de armazenar as peças em um ambiente hermético. O WD deve ser utilizado com moderação pois é higrófilo. Assim, nao se deve, por exemplo, colocar uma grande quantidade de WD em um recipiente aberto e tentar proteger a peça colocando a mesma nesse recipiente. Como o tempo o WD vai atrair água e a peça irá oxidar rapidamente. Há quem goste de preservar peças metálicas em tanques de óleo fino, mas considero essa abordagem pouco prática. Uma outra informação importante é que a sílica gel pode ficar saturada, favorecendo mais riscos do que proteção a peça. Uma inspeção de tempos em tempos é essencial para evitar futuras frustrações.

A melhor forma de preservação, utilizada pelos colecionadores mais "avançados",  é sem duvida através do emprego da tecnologia VCI. VCI significa "Vapor Corrosion Inhibitors" ou vapores inibidores de corrosão. A idéia é empregar determinadas substâncias que se vaporizam em ambiente fechado e se são depositados na superfície do material protegendo o mesmo da corrosão. Uma vez nesse estado o material pode ficar anos sem sofrer a ação da corrosão. Para uso, basta remover o material do ambiente fechado que os inibidores vaporizam e saem da superfície do material..Produtos VCI vêm na forma de saquinhos plásticos, papéis e emissores (saches).

Agradeço imensamente ao amigo José Maria Monzon pelas valiosas dicas dadas sobre preservação de meteoritos.